O melhor anúncio recente da Apple: um game do Mario Bros.
Faz um tempo que as apresentações da Apple não impressionam. A última, na semana passada, não foi muito diferente: o design do iPhone 7 parece, digamos, qualquer coisa (confira um texto sobre isso neste link); e o destaque do aparelho ficou, no fim, por conta da falta de algo… a entrada para fones de ouvido […]
Faz um tempo que as apresentações da Apple não impressionam. A última, na semana passada, não foi muito diferente: o design do iPhone 7 parece, digamos, qualquer coisa (confira um texto sobre isso neste link); e o destaque do aparelho ficou, no fim, por conta da falta de algo… a entrada para fones de ouvido (leia neste link e também na revista VEJA que está nas bancas). Agora, o que saltou aos olhos, mesmo, foi outro elemento. Um que passou quase despercebido para a maioria do público: o lançamento de um jogo do Mario para o iPhone.
A Nintendo, criadora do icônico encanador Mario, dominava os videogames nos anos 80 e 90 – chegou a conquistar 90% do mercado, no auge. Apesar de os games comerciais terem se estabelecido com a americana Atari – onde Steve Jobs, o fundador da Apple, trabalhou –, foi a fabricante japonesa que deu “o passo a mais” no ramo. Fundada em 1889, a Nintendo (pelo óbvio!) em nada tinha a ver com videogames. A companhia fabricava cartas de baralho. Isso até a década de 1980, quando Hiroshi Yamauchi (1927 – 2013) resolveu, ao herdar a empresa, entrar no ramo dos jogos eletrônicos.
A partir daí, foi a glória. Por duas décadas e meia. A Nintendo criou o padrão de jogos casuais que temos hoje – como com a criação dos de plataforma da linha Mario. Sem o estilo estabelecido pelos japoneses, não haveria Angry Birds ou aqueles jogos de correr sem parar, que fazem tanto sucesso em smartphones e tablets. Sem Nintendo, poxa, talvez não houvesse Zelda! Jogo que transformou a forma de contar histórias nesse tipo de plataforma (e, ouso dizer, a maneira de “contar histórias” de toda uma geração). Só que aí chegou 2007, o fatídico ano para a marca japonesa. Foi quando a Apple lançou o iPhone, pouco depois da Nintendo apresentar seu Wii.
O Wii era a forma de a empresa entrar no século XXI: um controle de captação de movimentos, combinado aos tradicionais games leves, “bobinhos”, da marca. Só que o iPhone foi além. O celular da Apple conseguiu trazer os games casuais para os dispositivos móveis. Passou a ser possível baixar um título, com a mesma qualidade de um do Wii, no smartphone, muitas vezes de graça – enquanto uma caixinha de Mario Bros. para o Wii continuava a custar uns 200 reais. A Nintendo começou, então, a perder o jogo. Parecia o fim.
Em um ano, a empresa japonesa chegou a ver cair 40% de seus lucros. As ações na bolsa foram ladeira abaixo. Isso até este 2016. Tudo indica que agora a Nintendo pode virar o jogo.
Primeiro, a marca veio com o app do Pokémon Go., uma febre que tomou não são crianças e adolescentes, como muitos adultos. Efeito: as ações voltaram a subir, significativamente, na bolsa. Na semana passada, surgiu a notícia, antecedida por um breve “Welcome Mario” de Tim Cook, o CEO da Apple: o anúncio do primeiro jogo de Mario Bros. para iOS (de iPhones e iPads) e, logo depois, para Android. Mais uma vez, o valor das ações só aumenta.
O que isso tem de importante? Até dois anos atrás, a Nintendo resistia a transpor seus títulos para smartphones e tablets. A razão era a de que a companhia estava acostumada a dominar tanto o hardware, quanto o software, no mercado. Em uma estratégia, aliás, similar à da Apple. Mas a tática dos japoneses não estava dando certo. Então…
“Há cerca de dois anos, anunciamos que queríamos olhar para os dispositivos smart como uma nova oportunidade para chegar a uma audiência bem maior”, firmou Shigero Miyamoto, o criador do Mario – e a cabeça criativa da Nintendo. Em outras palavras, se tocaram que precisavam se virar para continuar tão relevantes quanto são. E merecem ser! Foi esse esforço de dois anos que culminou em Miyamoto apresentando o Mario para o iPhone, no último dia 7.
Ocorre que, assim como a Apple, a Nintendo não é uma simples marca. Ela popularizou os games, colocou jovens ocidentais dos anos 80 e 90 em contato com elementos da cultura japonesa e ajudou a definir, enfim, o que era ser pop. Contudo, tinha perdido seu poder.
Agora, a nova manobra tem potencial de não só dar novo fôlego à fabricante. A rendição ao universo dos smartphones e tablets pode acabar por reerguer toda a empresa e abrir um novo caminho a ser seguido. Com isso, o mais importante: meus filhos e netos poderão jogar Mario, Zelda, Donkey Kong etc. Não importa onde ou como. Pois esses também não são só personagens. Tratam-se de ícones pops que já acompanham a criação (e educação) de gerações de jovens. Seria uma lástima perdê-los diante das inovações do século XXI.
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(Em tempo: ah, como eu devo a Zelda muitas tardes de diversão, pesquisa – sim, eu estudava muito para jogar direito –, cálculos e várias das referências que tenho de parte de minha adolescência. Estava triste por ver Link, protagonista da série, e cia. se esvaírem. E como estou aliviado por vê-los se recuperar)
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