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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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Não seria ruim se o Facebook fosse só para papos entre amigos

A medida anunciada por Zuckerberg ontem, que dá menor espaço a mídias e marcas na rede, pegou mal. Porém, seria uma boa se fizesse o site voltar às origens

Por Filipe Vilicic Atualizado em 15 jan 2018, 12h13 - Publicado em 12 jan 2018, 14h08

Quando se entra hoje no Facebook, o que se vê? Poucos, bem menos do que já fora, posts de amigos contando sobre a balada de ontem, pais exibindo fotos fofas de seus filhos, vídeos de gatinhos saltitantes e vovós indagando como usar algum gadget novo. O que prevalece: muitos, tantos, compartilhamentos de links, memes, notícias, mentiras e por aí vai.

Quando o Facebook foi lançado, nos idos de 2004 (nesta era conectada, 14 anos parecem correr como 100), a ideia era a de que ele fosse um espaço para que universitários top de linha se expressassem. Depois, virou uma praça pública na qual se reencontravam conhecidos das antigos, colegas de infância, familiares separados pela distância geográfica. Com o tempo, contudo, a coisa toda descambou e o Facebook se transformou numa cacofonia cada vez mais ruidosa. Como seria bom, e saudável para a convivência social (seja real ou virtual), se o site voltasse a ser tão-somente a extensão da sala de casa, onde só encontrássemos o que nossos contatos mais queridos têm a dizer sobre o que comeram no café-da-manhã, de uma doença que acometeu um pet ou das lambanças em que um tio se meteu.

Nesse sentido, poderia ser bem-recebida a notícia anunciada ontem por Mark Zuckerberg, o criador e CEO da maior das ágoras digitais. Em resumo, ele garante que, em pouco tempo, muito irá mudar na timeline do Facebook. O algoritmo do site passará a dar menor destaque para páginas de marcas e veículos de imprensa, para aumentar a relevância dos posts publicados pela rede de amigos.

O porém é que isso não quer dizer que se voltará à era posts de amigos contando sobre a balada de ontem, pais exibindo fotos fofas de seus filhos, vídeos de gatinhos saltitantes e vovós indagando como usar algum gadget novo. Mas, sim, se alimentará a fofoca, o compartilhamento de notícias falsas (as fake news, como se passou a conhecer o cruel fenômeno), o vazamento de nudes etc. Por quê?

O Facebook, na real, em nada intenciona deixar a plataforma mais com cara de reunião de família do que com uma manifestação caótica na Avenida Paulista. O que ele quer é outra coisa. A pretensão é que as pessoas, assim, tenham mais vontade de entrar e, principalmente, não sair, do site, ou do app.

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Para tanto, a tática é inteligentíssima: mostrar o que pessoas próximas, sobre as quais sempre se quer saber sobre, tem a falar. Não a falar sobre o que se comeu no café-da-manhã. Mas, isso sim, o que cada indivíduo quer compartilhar do que viu por aí no mundo virtual. Ou seja, se valorizará os posts sobre bizarrices, fake news, sobre como a Pepsi teria estampado a cara de Bolsonaro em seu rótulo e, assim, vencido a Coca em vendas (aviso: boato mentiroso!).

E também não ache que marcas e veículos de imprensa vão realmente ficar de fora de sua timeline. Isso é ilusão. Hoje, o que faz o Facebook com essas páginas: divulgam-se os posts para alguns poucos seguidores dessas marcas e veículos, no máximo uns 10% desse total; e quem quiser alcançar um público maior, mesmo que seus próprios fãs, tem de pagar uma grana por isso, para promover o link pela plataforma. Essa é uma das principais formas do Facebook ganhar dinheiro.

Quando se ouve que Mark Zuckerberg quer valorizar menos mídias e marcas, o isso que quer dizer, então? Se antes um post nesses perfis, digamos, comerciais, chegavam a uns 10% dos seguidores, agora esse número será reduzido, em muito. Entretanto, em nenhum momento se falou de cortar os posts patrocinados, promovidos pelo Facebook mediante um pagamento, ou os anúncios.

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Em outras palavras, isso quer dizer: das marcas e veículos de imprensa, aparecerão na sua timeline aqueles que pagarem pra tal; não aqueles que você, por livre escolha, decidiu ser fã e seguir. Não se engane, publicidade paga continuará a pipocar no teu perfil. Você só parará de ver o que realmente gosta, mesmo; isso tirando o que tem a dizer um tio ou primo sobre Bolsonaro ou Lula, é claro (pois é isso que dá audiência na internet, convertendo-se num maior público para atrair os anunciantes).

Pena, mas o Facebook dificilmente voltará a ser um agradável espaço para papos entre amigos e familiares. Assim como o Instagram há muito deixo de ser somente uma plataforma para álbuns de fotos. Ou o Twitter abandou sua função principal, e inicial, de servir apenas de promotor de mensagens rápidas sobre alguma bobagem que alguém está fazendo naquele exato momento.

Pouco antes de vender o Instagram ao Facebook por cerca de 1 bilhão de dólares – história que relato em livro de minha autoria, O Clique de 1 Bilhão de Dólares, da Intrínseca –, o brasileiro Michel “Mike” Krieger, um dos dois fundadores do app de fotos, me disse: “Escolhemos só ter fotos no app para deixá-lo limpo, agradável, para ele não se parecer com todas as outras redes sociais, para ter um diferencial”. Hoje, o Instagram conta com vídeos, stories estilo Snapchat, mensagens diretas etc. e tal. Como todas as redes sociais, parece não se diferenciar muito de seus pares. Com a notícia de ontem, o Facebook indica é que não mudará esse cenário de loucuras virtuais, de cacofonia na internet, que de já tão usual se tornou uma mesmice chata e que incomoda.

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