Não reconheço mais o design da Apple no novo iPhone 7
Uma das melhores definições que já ouvi do motivo de os produtos da Apple serem tão apaixonantes é fruto de uma histórica conversa entre John Sculley, ex-CEO da Apple, com Steve Jobs, o aclamado fundador da empresa. Ela me foi relatada pelo próprio Sculley, em entrevista recente que fiz com ele. A história: Quando Jobs decidiu convidar […]
Uma das melhores definições que já ouvi do motivo de os produtos da Apple serem tão apaixonantes é fruto de uma histórica conversa entre John Sculley, ex-CEO da Apple, com Steve Jobs, o aclamado fundador da empresa. Ela me foi relatada pelo próprio Sculley, em entrevista recente que fiz com ele. A história:
Quando Jobs decidiu convidar Sculley para ser CEO da companhia, no início dos anos 80 (ele ocupou a posição até 1993 e é conhecido também por ter sido responsável pelo afastamento de Jobs do quadro da Apple), ambos tiveram uma conversa preliminar, durante uma caminhada em Nova York. O executivo era, então, presidente da Pepsi. Foi quando Jobs soltou sua hoje clássica frase de convencimento para Sculley: “Você quer vender água açucarada para o resto de sua vida ou quer vir comigo e mudar o mundo?”. Como se sabe, é difícil não ser convencido pelo genial fundador da Apple – e esse caso não foi diferente.
Durante a conversa deles, porém, Sculley me relatou mais um trecho memorável. Foi quando ambos discutiam o motivo das pessoas preferirem Coca-Cola à Pepsi. “Após diversos testes às cegas, notamos que a maioria queria era o gosto da Pepsi, mas na hora de escolher o rótulo no mercado, preferiam nossa rival mais famosa, mesmo assim”, contou-me o ex-CEO da Apple. “Frente a isso, Jobs simplificou a mim: ‘quando as pessoas vão servir os refrigerantes em suas casas, elas escondem a garrafa na cozinha se for Pepsi. Se for Coca, levam à mesa”.
Com a Apple, Jobs queria ser a Coca, não a Pepsi. Isso que ele explicou a Sculley, que logo sacou a ideia: “tem de ser fashion, da moda, para quererem seu produto, não o do concorrente”, disse o ex-CEO.
O que isso tem a ver com o novo iPhone 7? Tudo.
Design sempre foi central ao sucesso da Apple. Quão cool era, nos meados dos anos 2000, andar pelas ruas com um iPod na mão e o fio branco ao longo do corpo, conectando o aparelho ao fone de ouvido? O dispositivo e o fone pareciam uma coisa só. E, ambos, brancos, o que era transgressor para o período. Antes do iPod, era regra que fones deveriam ser pretos, cinzas, ou de cores berrantes. A Apple furou a norma do design – e arrebentou!
Um toque de genialidade sempre foi dado ao desenho dos produtos da marca. A começar pelo logo: antes, quando se abria um laptop, via-se a “maçã” invertida; mas, na virada dos anos 2000, ousou-se ao deixar a imagem de cabeça para baixo para o usuário e, assim, ela ficava na posição correta para quem olhava o aparelho do outro lado. Resultado: ao se abrir um MacBook em um café, todos saberão que se trata de um produto da Apple.
Não por acaso, um estudo britânico apontou que donos de iPhones são menos humildes, e mais extrovertidos, do que os proprietários de dispositivos Android (confira no link). Quem tem um aparelho da Apple se importa com aparências – o que não é, de forma alguma, um elemento negativo. Sempre se tratou de um público exigente, exibicionista (no bom sentido da palavra, diga-se), que quer mostrar a que veio ao tirar do bolso seu iPhone de quase 1000 dólares.
Não reconheço mais esse requinte da Apple. O novo iPhone 7 em nada revoluciona em design, em comparação com os antecessores. Ainda mais se o colocarmos lado a lado com um iPhone 5 branco, lançado em 2012, que contava com todas as qualidades que a Apple sempre exibiu. Com sua borda recortada e laterais planas, em formato retangular, era possível reconhecer um iPhone 5 de longe.
Já quem vê um iPhone 7 de certa distância pode confundi-lo com um smartphone da concorrência. Como as marcas rivais, ele apresenta várias cores – tantas que acaba por não ter uma associada a ele. A forma mais arredondada, então, faz lembrar celulares similares da Samsung.
E não se trata de um problema novo.
A Apple foi duramente criticada, por exemplo, pelo design simétrico do controle da Apple TV. O problema: no escuro (situação em que se costuma assistir à televisão), como saber se o controle está de ponta cabeça (ou onde estão seus “botões”)? No ano passado, novamente foi alvo de deboche a “capinha” que lançaram para iPhones (o popular site americano The Verge a chamou de uma “vergonha de design”). Já o Apple Watch chegou às lojas com uma aparência demasiadamente similar à de relógios de rivais, a exemplo dos da Samsung e os da LG.
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Em resumo, já tem um tempo que a Apple não faz cair o queixo com o belo design de um novo produto. Pena.
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