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A boa e velha reportagem

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O Trump das mudanças radicais virou o radical sem mudança

O presidente americano não está errando apenas nas táticas políticas; suas promessas careciam de um pé na realidade desde o início

Por Diogo Schelp Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 abr 2017, 06h38 - Publicado em 29 abr 2017, 06h38

“De hoje em diante, uma nova visão vai governar nossa terra”, anunciou Donald Trump em seu discurso de posse. Evidentemente, todo novo governante apresenta-se como uma força transformadora para seu país. Não fosse assim, em democracias, não seria eleitos. Mas Trump foi mais longe. O que ele prometeu foram mudanças radicais. Disruptivo (para usar uma palavra muito em voga atualmente), assim seria o governo Trump em praticamente todas as áreas, da economia às relações sociais, da maneira de fazer política ao papel dos Estados Unidos no mundo. Exatamente 100 dias depois daquele discurso, nem sinal de mudança radical no horizonte do país.

Em artigo para a Foreign Policy, uma revista americana especializada em política internacional, Hal Brands, professor de assuntos globais na Universidade Johns Hopkins, demonstrou a distância entre a expectativa inicial e a realidade da diplomacia trumpiana. Na avaliação de Brands, o início do governo Trump foi agitado, com um turbilhão de controvérsias. O caos é um efeito natural de fenômenos disruptivos. Mas não no governo Trump, que só teve caos e nenhuma mudança efetiva. Trump elevou o tom bélico (nada difícil, comparado com a timidez do antecessor Barack Obama nesse quesito), mas não tomou nenhuma medida radical para mudar o status quo dos conflitos e tensões armados no mundo. Na Síria, saiu da posição inicial, que era a de buscar um entendimento com os russos e a ditadura local, para a decisão de bombardear uma base aérea em resposta ao uso de armas químicas contra a população civil. Com o Irã, elevou-se o tom, mas não houve nenhum movimento para acabar com o acordo nuclear costurado por Obama. Na Coreia do Norte, além de alguns sabres desembainhados, não se vislumbra na estratégia de Trump nenhuma solução concreta para o avanço nuclear da alucinada ditadura asiática. Na palavras de Brands, “o latido de Trump é pior do que sua mordida”.

Os latidos externos de Trump, aliás, podem ser simplesmente uma tentativa de desviar a atenção de fracassos dentro de sua própria casa. Para quem prometeu, na campanha, “drenar o pântano” da política tradicional de Washington, D.C., até parece que o presidente americano está começando a se conformar com a lama entrando em suas botas. Não sem reclamar, claro. Para isso existe o Twitter.

Em um levantamento feito para a reportagem de VEJA que chega às bancas hoje, descobre-se que, de nove promessas de mudança radical, Trump só conseguiu cumprir uma: a anulação da Parceria Transpacífica, um acordo de livre-comércio que ainda nem estava em vigor. Por isso mesmo, bastou uma canetada para anulá-lo.

Trump está descobrindo que é mais fácil ser tragado pelo pântano do que drená-lo. Ele tem esbarrado no Congresso, na Justiça e nos conselhos desastrosos de assessores inexperientes.

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Em suma. Para ser disruptivo, não basta sair por aí prometendo mudança radical. É preciso ter uma visão de futuro minimamente viável.

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