O que muda na transição verde da economia global com o tarifaço de Trump
Reorganização do comércio internacional imposta pelas maiores taxas em cem anos terá impacto profundo no enfrentamento às mudanças climáticas

As novas tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na última quarta-feira, 2, desataram uma tormenta de consequências ainda imprevisíveis no comércio global.
Com taxação de pelo menos 10% sobre todos os países, Washington impôs as maiores barreiras comerciais em mais de um século.
As novas tarifas afetam fortemente o Sudeste Asiático, de onde vêm a maioria das importações solares americanas.
O Vietnã, um dos principais fornecedores, foi atingido por uma tarifa de 46%. Camboja e Tailândia também sofreram sobretaxas expressivas, de 49% e 36%, respectivamente.
Os impactos dessas tarifas na transição energética estão longe de serem totalmente mensurados. No entanto, algumas tendências já começam a surgir.
China deve ampliar a exportação de tecnologia limpa para países emergentes
A China foi um dos alvos mais atingidos pelas novas tarifas de Trump, que chegam a 34%, somando-se a um aumento de 20% no início do ano.
Além disso, o país já enfrentava tarifas impostas pelo ex-presidente Joe Biden sobre painéis solares chineses. Agora, produtos como veículos elétricos e baterias também serão sobretaxados.
Essa pressão deve acelerar uma tendência que já é possível de se observar, inclusive no Brasil. A China deverá exportar mais tecnologia limpa para países de baixa e média renda.
De 2022 a 2024, a participação dessas exportações cresceu aceleradamente, abrangendo veículos elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e baterias de íons de lítio.
Isso representa um grande desafio para os EUA, que importam muito mais painéis solares do que produzem.
A Índia, por outro lado, foi relativamente poupada, com uma tarifa de 26%.
Isso ocorre em um momento em que o país está expandindo sua capacidade de produção de tecnologia limpa, incluindo um recente subsídio de US$ 1 bilhão para fortalecer sua indústria solar.
Nos últimos dois anos, a Índia aumentou significativamente suas exportações de energia solar para os EUA, enviando 9,4 gigawatts em células e módulos solares, avaliados em US$ 3,4 bilhões, segundo dados alfandegários.
Com tarifas mais altas sobre painéis vietnamitas e de outros países, a Índia pode ganhar espaço nesse mercado.
Embora as tarifas sejam justificadas como um meio de fortalecer a manufatura nos EUA, seus impactos vão além.
Elas criam barreiras que dificultam a transição energética global, em um momento em que o mundo precisa acelerar seus esforços para mitigar as mudanças climáticas.
Além disso, a instabilidade gerada por essas políticas afasta investimentos de longo prazo.
Assim, as tarifas devem prejudicar praticamente todas as economias, atrasando a transição energética global.