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USP desenvolve vacina contra o vírus que causa câncer de colo de útero

Cientistas trabalham em um imunizante terapêutico que se mostrou eficaz em camundongos na eliminação de tumores causados pelo HPV

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 30 mar 2022, 13h40
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  • Cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) estão desenvolvendo uma vacina terapêutica contra o papilomavírus humano (HPV), principal agente causador do câncer do colo do útero. Em estudo, publicado na revista International Journal of Biological Sciences, o imunizante se mostrou capaz de eliminar tumores associados ao vírus em camundongos.

    A pesquisa, conduzida por dois laboratórios do ICB, de Imunologia de Tumores, coordenado pelo professor José Alexandre Marzagão Barbuto, e de Desenvolvimento de Vacinas, sob o comando do professor Luís Carlos de Souza Ferreira, além da empresa ImunoTera Soluções Terapêuticas, também mostrou que, quando associada à quimioterapia baseada em cisplatina, a vacina induz uma resposta antitumoral específica, capaz de eliminar tumores em estágio avançado de desenvolvimento, sem causar danos no fígado e nos rins.

    “Conseguimos fazer a prova de conceito em camundongos e agora estamos validando os resultados em humanos, acompanhando um grupo pequeno de pacientes por um período de seis meses a um ano. A publicação dos novos resultados deverá ser feita em meados de 2023″, afirma Bruna Porchia, pós-doutoranda do ICB e primeira autora do estudo. “Depois disso, partiremos para testes clínicos mais abrangentes, para avaliar a segurança e a eficácia do imunizante. Os resultados iniciais são muito animadores”, completa.

    Atualmente, uma prova de conceito clínica está sendo conduzida com pacientes diagnosticadas com neoplasia intraepitelial cervical (NIC) de alto grau, um estágio anterior ao câncer do colo do útero, no Hospital das Clínicas da USP (HC-USP). Com aplicação do imunizante de forma indireta, é retirada uma amostra de sangue da paciente e, em laboratório, as chamadas células dendríticas são isoladas e ativadas in vitro com o imunizante.  Quando retornam à paciente na forma de uma injeção, essas células “ensinam” o sistema imunológico, por meio dos linfócitos T, a reconhecer e eliminar as células tumorais no colo uterino.

    O imunizante é feito com base em uma proteína recombinante que possibilita a ativação do sistema imune. “Trata-se de uma vacina capaz de induzir uma resposta altamente específica a um alvo terapêutico e que, ao contrário de métodos como a quimioterapia e a radioterapia, não afeta células saudáveis do organismo. Com isso, é possível eliminar as neoplasias do colo uterino aliado a uma baixa toxicidade”, afirma a pesquisadora.

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    Baseado nos testes já realizados, a tecnologia pode ser aplicada também para combater outras doenças crônicas ou infecciosas.  “As possibilidades são muitas. Podemos desenvolver, por exemplo, vacinas para câncer de mama, câncer de próstata, tuberculose, hepatite, covid-19, zika e HIV”, diz Bruna. Aplicado em duas doses, o imunizante poderá tratar tumores em estágios iniciais porque é nesse momento que consegue melhor resposta do organismo. “Quando um câncer evolui, criam-se mecanismos de evasão que muitas vezes superam a capacidade do sistema imune de eliminá-lo. Neste caso, a associação da vacina com outras terapias pode trazer bons resultados”, explica.

    O estudo contou também com o apoio da Divisão de Ginecologia do Hospital das Clínicas (HC) da USP, por meio dos professores Edmund Chada Baracat e José Maria Soares Junior, e da médica ginecologista Maricy Tacla, e foi previamente aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do ICB e do HC-USP e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).

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