Butantan mapeia possíveis marcadores na urina para diagnóstico do autismo
Estudo com 44 crianças com idades de 3 a 10 anos encontrou alterações em proteínas e aminoácidos que podem ajudar também em acompanhamento do quadro
Um estudo realizado pelo Instituto Butantan com 44 crianças de 3 a 10 anos apontou a possibilidade de ligação entre alterações em proteínas e aminoácidos presentes na urina e o diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Segundo os pesquisadores, os achados podem indicar potenciais biomarcadores tanto para a confirmação do quadro quanto para o acompanhamento de sua evolução.
Para o ensaio, o grupo comparou amostras de 22 crianças com o diagnóstico de autismo com as coletadas de 22 crianças neurotípicas. Os resultados indicaram alterações em proteínas e nos aminoácidos arginina, glicina, leucina, treonina, ácido aspártico, alanina, histidina e tirosina na urina das crianças com TEA.
“O autismo é um espectro de alta complexidade, influenciado por vários fatores. Da mesma forma, o seu acompanhamento deve ser multidisciplinar: terapias comportamentais, psicoterapia e nutrição, por exemplo, são práticas que visam melhorar e controlar o quadro”, explicou, em comunicado, Ivo Lebrun, pesquisador do Laboratório de Bioquímica e Biofísica do Butantan.
Os resultados podem contribuir para futuras abordagens porque estudos prévios apontaram que, na fase de desenvolvimento dos receptores de neurotransmissores — ainda na formação do feto ou em recém-nascidos, o desequilíbrio dos aminoácidos podem levar o cérebro a se tornar mais vulnerável à superestimulação.
Outras pesquisas relacionam esse tipo de desregulação metabólica com a presença de comorbidades que podem afetar pessoas que vivem com autismo, como transtornos gastrointestinais que podem se manifestar com intolerância a derivados do leite e glúten. O trabalho foi publicado na revista científica Biomarkers Journal.
Vantagens dos biomarcadores para o autismo
O Transtorno do Espectro do Autismo é uma condição ligada ao neurodesenvolvimento que se apresenta com dificuldades para comunicação, incômodo em situações sociais, seletividade alimentar e comportamentos repetitivos, por exemplo.
Segundo o Ministério da Saúde, sinais podem se tornar mais perceptíveis por volta dos 2 ou 3 anos de idade. No entanto, o diagnóstico continua sendo um desafio para muitas famílias, já que é preciso uma avaliação multidisciplinar para fechar o quadro e nem todas as pessoas têm acesso fácil a neurologistas, psiquiatras, terapeutas e fonoaudiólogos.
Por esse motivo, pesquisadores ao redor do mundo têm se empenhado em desenvolver formas de rastrear o transtorno e trabalham em bancos de dados que possam ser alimentados com amostras de sangue e sequenciamento genético.
De acordo com o Butantan, biomarcadores presentes na urina têm a vantagem de demandar apenas um tipo de coleta que pode ser realizada de forma simples e em casa, evitando idas a laboratórios e procedimentos mais invasivos, caso do exame de sangue.