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Uma chance para o futuro

Embriões híbridos de rinoceronte criados em laboratório podem livrar o mamífero da extinção

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h24 - Publicado em 27 jul 2018, 07h00
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  • Em março, a reserva ambiental Ol Pejeta, no Quênia, comunicou a morte do último rinoceronte-branco-do-norte macho do mundo. Sudan morreu aos 45 anos por complicações relacionadas à idade avançada (a média de vida do animal é de 40 anos). Embora tenham restado dois rino­ce­rontes-bran­cos-do-norte fêmeas, moradoras da mesma área no Quênia, o desaparecimento do último macho da espécie — ou, nesse caso, subespécie — significa seu fim.

    Na primeira semana deste mês, porém, um estudo publicado na revista científica Nature acendeu uma centelha de esperança entre ambientalistas. Uma equipe internacional de pesquisadores criou embriões híbridos do mamífero em laboratório. Os cientistas produziram uma mistura genética de óvulos de rinocerontes-brancos-do-sul com esperma de alguns de seus parentes do norte (Sudan incluído) colhidos enquanto viviam. O material genético das fêmeas do norte, Najin e Fatu, não foi usado porque ambas são inférteis, além de parentes de Sudan — respectivamente, filha e neta. Foi a primeira vez que se criaram embriões de qualquer tipo de rinoceronte, o que é um enorme avanço para recuperar as populações desses animais. O próximo passo é buscar uma barriga de aluguel entre os rinocerontes fêmeas do sul e acompanhar a gestação, torcendo para que seja um sucesso.

    Sudan tornou-se o mais famoso dos rinocerontes em 2014, depois da morte de Suni, outro macho da reserva do Quênia. A caça ilegal, estimulada pela demanda pelo chifre do animal (países como a China usam o material, triturado, para tratar de dor de cabeça a câncer), foi o principal motivo para que os mais de 2 000 indivíduos vivos em 1960 fossem reduzidos a apenas quinze em meados da década de 80. Em 2008, o rinoceronte-bran­co-do-norte foi considerado extinto da natureza, embora ainda estivesse presente em zoológicos. No ano seguinte, os últimos quatro indivíduos férteis — Sudan, Suni e as duas fêmeas, hoje já inférteis — foram transferidos de um zoológico na República Checa para a reserva no Quênia. A ideia era que o ambiente parecido com o hábitat dos animais pudesse estimular uma reprodução natural. Não funcionou. Como um alerta para a situação desses mamíferos, ativistas criaram uma campanha no Tinder, aplicativo para encontros românticos, apresentando Sudan como um raríssimo macho em busca de uma namorada.

    O fracasso de medidas conservacionistas, tradicionais e nem tanto, estimulou os cientistas a tentar a solução dos embriões híbridos. “A morte de Sudan é um fato triste, mas a possibilidade de que ele possa contribuir para gerar uma prole ainda é real”, disse a VEJA o biólogo Thomas Hildebrandt, do Instituto Leibniz de Pesquisa em Zoologia e Vida Selvagem, na Alemanha, um dos autores do trabalho. Com os híbridos, ele aposta no nascimento de um primeiro filhote daqui a três anos.

    Os rinocerontes são uma das últimas espécies de mega-herbívoros remanescentes. Em um estudo de 2014 que analisou dados do Parque Nacional Kruger, na África do Sul, percebeu-se que em áreas habitadas por eles a diversidade da vegetação aumenta cerca de vinte vezes. À medida que os rinocerontes comem as folhas mais altas, as mais baixas têm maior contato com a luz solar e ganham força para crescer. A presença desses animais faz com que aumente a quantidade de alimento para os demais. O biólogo Hildebrandt destaca outro fator que justifica a necessidade de recuperar a população da subespécie. “Com poucos indivíduos, eles não vão aprender a se comportar como seus antecessores. Não há genética que salve traços de comportamento.” É o novo ciclo: o que o homem destruiu por meio de práticas abomináveis a ciência do mesmo homem tentar recriar.

    Publicado em VEJA de 1º de agosto de 2018, edição nº 2593

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