Durante a gravação de Rock’n’Roll, álbum que lançaria em 1975, John Lennon tomou um susto. Em um acesso de fúria, o produtor musical Phil Spector sacou um revólver e atirou contra o ex-beatle. A bala atingiu a parede, passando a poucos centímetros da cabeça de Lennon. Tremendo, o cantor reagiu: “Phil, se você quer me matar, me mate. Mas não f*** com meus ouvidos. Eu preciso deles”. Anedotas como essa não foram incomuns na trajetória de Spector. Nascido em Nova York, em 1939, ele se revelou ainda na juventude um produtor genial — mas, quanto mais a fama crescia, mais se acumulavam indícios de ser uma personalidade problemática, violenta e, finalmente, criminosa.
Na música, a lista de feitos de Spector impressiona. Ele foi o responsável por Let It Be, último álbum lançado pelos Beatles, além de discos-solo de Lennon e George Harrison. Produziu outros trabalhos antológicos, da música negra de Ike & Tina Turner ao punk dos Ramones, passando pelo folk rock de Leonard Cohen. Sua maior criação foi a técnica de gravação chamada de “wall of sound” (parede de som), que consistia em preencher todo o espectro sonoro com elementos, conferindo densidade radiofônica às faixas.
Na vida pessoal, porém, o barulho causado por Spector não era nada elogiável. Leonard Cohen o comparou a Hitler, após ele apontar uma arma para sua cabeça. Quando Dee Dee, dos Ramones, tentou deixar uma sessão de gravação, Spector sacou a arma e fez o artista de refém. Em 2003, a infâmia chegou ao ápice: Spector matou em sua casa a atriz Lana Clarkson, que conhecera em uma balada. Àquela altura uma figura estranhíssima, devido às perucas e intervenções plásticas, ele foi condenado a dezenove anos de prisão. Morreu no sábado 16, aos 81 anos, de complicações da Covid-19, na Califórnia — onde ainda estava preso.
Publicado em VEJA de 27 de janeiro de 2021, edição nº 2722