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Ex-presidente da Dersa indicado por Alckmin é preso em operação da Polícia Federal que investiga fraude e superfaturamento em obras do Rodoanel

Por Ana Clara Costa Atualizado em 4 jun 2024, 16h45 - Publicado em 22 jun 2018, 06h00
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  • A cada pequeno passo dado pelo tucano Geraldo Alckmin na corrida presidencial, um fosso se abre logo à sua frente. A semana, que começou com a expectativa de que seu novo núcleo político capitaneado pelo ex-governador de Goiás Marconi Perillo pudesse avançar na costura de acordos com partidos de centro, terminou em clima de apreensão. Indicação de Alckmin, Laurence Casagrande Lourenço, ex-secretário de Transportes e ex-presidente da Dersa, a estatal rodoviária paulista, foi preso pela Lava-Jato. Os investigadores apuram suspeitas de fraude e superfaturamento de contratos no total de 600 milhões de reais em todo o trecho norte do Rodoanel, cuja construção teve início em 2013, já no governo Alckmin. É a primeira investida da força-tarefa da Lava-Jato em um núcleo diretamente ligado ao ex-governador. No começo de junho, VEJA antecipou as acusações que recaíam sobre Lourenço e o fato de a Justiça ter autorizado a quebra de seus sigilos fiscal e bancário. À época, o executivo negou ter cometido qualquer irregularidade.

    Lourenço, que até ser preso presidia a Companhia Energética de São Paulo (Cesp), é investigado por fraude na celebração de aditivos, execução fraudulenta de contratos e subcontratação irregular de empresas pela Dersa. É acusado de avalizar aditivos contratuais que resultaram em um superfaturamento de 33 milhões de reais. Outros seis funcionários e ex-funcionários da Dersa também foram presos temporariamente na operação.

    As investigações sobre o trecho norte do Rodoanel começaram em 2015, depois que um ex-prestador de serviços da obra, João Bosco Gomides, se desentendeu com Lourenço e foi impedido de continuar trabalhando no Rodoanel. Indignado, ele decidiu contar o que sabia ao Ministério Público Federal. Gomides informou aos procuradores que engenheiros deixaram de atuar na obra por não aceitar a criação de um aditivo com a OAS, que executava trabalhos de terraplenagem no empreendimento. Um dos engenheiros, Emilio Squarcina, referendou as informações de Gomides em depoimento e mostrou documentos para provar que não havia justificativa técnica para os aditivos.

    Os dados fornecidos por Squarcina não só ajudaram os procuradores a investigar irregularidades no aditivo — também suscitaram a suspeita de que todo o contrato de terraplenagem com a empreiteira tivesse sido superfaturado. Recorrendo ao velho método de roubar em obras públicas, a OAS teria vencido o certame com o preço mais baixo por metro cúbico de obra — 16 reais — e, depois de celebrados os aditivos, subiu o preço para 46 reais, quase o dobro do orçamento inicial, de 27 reais. O Tribunal de Contas da União e o Ministério da Transparência foram acionados para investigar a construção, que recebe recursos da União. Em relatório de auditores ainda não julgado pelos ministros da Corte de Contas, verificou-se sobrepreço de 55 milhões de reais em apenas um aditivo da OAS. Os investigadores também apuram irregularidades em contratos firmados com a Mendes Junior. As procuradoras do caso, Anamara Osório e Thaméa Danelon, afirmam que parte das fraudes nos aditivos ocorreu mesmo depois da deflagração da Lava-Jato, em março de 2014. Três diretores das duas empreiteiras também foram alvo da Operação Pedras no Caminho.

    Lourenço foi diretor da multinacional de inteligência Kroll antes de se juntar ao núcleo duro de Alckmin, em 2011, a convite de Saulo de Castro Abreu, então secretário de Transportes do ex-governador e seu braço-­direito no Palácio dos Bandeirantes. Uma de suas funções era investigar os malfeitos ocorridos na estatal na época de José Serra e separá-los da nova gestão, delimitando fronteiras na atuação dos dois tucanos. Lourenço entrou na Dersa depois da saída de Paulo Preto, o ex-diretor que se tornou freguês da Justiça. Réu em um processo que apura peculato nas obras do Rodoanel, e investigado desde que foi acusado por delatores da Odebrecht e da Andrade Gutierrez de ter operado caixa dois para políticos tucanos, Paulo Preto vem tirando o sono do tucanato. Agora, não é mais o único.

    Publicado em VEJA de 27 de junho de 2018, edição nº 2588

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