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Contrário ao chanceler, Museu do Holocausto define nazismo como de direita

Ernesto Araújo e o deputado Eduardo Bolsonaro defendem a tese, que estudiosos alemães chamam de 'absurda' e 'asneira'

Por Vinicius Novelli
Atualizado em 2 abr 2019, 15h18 - Publicado em 2 abr 2019, 13h17
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  • O nazismo foi um movimento de direita. A conclusão está no portal na internet do Museu do Holocausto de Jerusalém, um dos maiores centros de pesquisa histórica sobre o massacre de mais de 6 milhões de judeus pela Alemanha nazista durante a II Guerra Mundial. A conclusão óbvia para estudiosos do período tem sido insistentemente contrariada pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo.

    No seu portal na internet, a instituição traz um breve resumo sobre o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, da primeira metade do século XX: “O Partido Nazista foi a consequência de um pequeno círculo extremamente antissemita e de direita que começou a se reunir em novembro de 1918”.

    O Museu do Holocausto foi visitado pelo presidente brasileiro nesta terça-feira, 2. Em um “momento de reflexão”, como assim o descreveu, Jair Bolsonaro declarou no local: “Aquele que esquece seu passado está condenado a não ter futuro”.

    O assunto tornou-se alvo de polêmica depois de o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ter dado uma entrevista semana passada e publicado em seu blog, Metapolítica 17, que o nazismo foi um movimento de esquerda. “A esquerda fica apavorada cada vez que ressurge o debate sobre a possibilidade de classificar o nazismo como movimento de esquerda”, escreveu ele.

    Em entrevista ao portal de direita Brasil Paralelo, o chanceler repetiu seu raciocínio. Afirmou que os regimes totalitários distorceram e sequestraram o sentido original do conceito de nacionalismo e que essa tendência foi maior entre os de esquerda.

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    “Essa é uma tendência da esquerda: pega uma coisa, perverte e a transforma em uma coisa ruim. Foi o que aconteceu com esses regimes totalitários”, explicou. “Isso tem a ver com o que eu digo, que o fascismo e o nazismo são movimentos de esquerda. É a mesma lógica que os preside”, completou.

    Em posts publicados nas redes sociais entre 2015 e 2017, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, valeu-se de um discurso de 1927 de Adolf Hitler para também considerar o nazismo como um movimento de esquerda.

    ‘Asneira’

    A agência estatal alemã Deutsche Welle não deixou essas declarações passarem em branco. No último dia 28,  publicou uma reportagem intitulada “Nazismo de esquerda: o absurdo virou discurso oficial em Brasília”. No texto, considera essa tese “desonesta e sem sentido” e  argumenta que o termo “socialista”, empregado no nome do partido, fazia parte da estratégia eleitoral para atrair a classe trabalhadora.

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    A Deutsche Welle respaldou sua reportagem em declarações de estudiosos do tema. “Quando um ministro do Exterior faz esse tipo de afirmação, considero altamente problemático diplomaticamente e um absurdo cientificamente”, afirmou a historiadora Stefanie Schüler-Springorum, diretora do Centre de Pesquisas sobre Antissemitismo da Universidade Técnica de Berlim.

    Wulf Kasteiner, da Universidade de Aarthus, explicou à agência alemã que o nazismo nunca seguiu a política da esquerda. “Ao contrário, propagava valores da extrema direita, um extremo nacionalismo, um extremo antissemitismo e um extremo racismo. Nenhum especialista sério considera hoje o nazismo de alguma forma um fenômeno de esquerda. Por isso, da perspectiva acadêmica histórica, essa declaração é uma ‘asneira’.”

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