Avatar do usuário logado
Usuário
OLÁ, Usuário
Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Super BlackFriday: Assine VEJA a partir de 7,99

Como governo Lula e oposição levam debate sobre segurança para o palanque

É o tipo de embate que costuma não levar a lugar algum, servindo apenas para alimentar discursos às vésperas de um processo eleitoral

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 nov 2025, 12h11 - Publicado em 7 nov 2025, 06h00

Em tempos de polarização e irracionalidade, as reações após a operação policial desencadeada contra o Comando Vermelho no Rio Janeiro não surpreenderam. A direita celebrou a incursão nas favelas dominadas pela facção como uma demonstração de força e disposição do governo fluminense para enfrentar o crime organizado. A esquerda, comovida com o número de mortos, condenou a ação, resumida por deputados, senadores e até pelo presidente da República como um ato de extermínio. Embora compreensível, é o tipo de embate que costuma não levar a lugar algum, servindo apenas para alimentar discursos às vésperas de um processo eleitoral. A situação de descalabro do Rio, problema que não é de hoje, está longe de ser uma exceção no país. Diante do nível absurdo de violência que atinge vários estados, o mínimo que o cidadão espera das autoridades são atitudes mais efetivas para combater a escalada da violência. A insegurança é a preocupação número 1 dos brasileiros no momento, o tema que estará presente nos palanques em 2026 e sobre o qual os candidatos serão confrontados, o que explica muito do que se viu depois da investida nos territórios dominados pelos fora da lei.

Faltando menos de um ano para a próxima disputa eleitoral, políticos transformaram a operação numa frente de batalha política. O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), aproveitou a maior visibilidade desde que assumiu a função para elogiar o comportamento de sua própria força policial e criticar uma suposta omissão do governo federal — e, diante da repercussão positiva da incursão junto à população, prometeu levar a cabo novas ações contra as facções. Na segunda-feira 3, ele ainda recebeu o ministro Alexandre de Moraes, relator de um processo que restringiu as operações policiais em favelas, e garantiu que a ação de sua polícia seguiu todos os regramentos impostos pelo Supremo Tribunal Federal.

“MATANÇA” - Lula: ações e declarações pautadas pelo cálculo eleitoral
“MATANÇA” - Lula: ações e declarações pautadas pelo cálculo eleitoral (Filipe Bispo/Fotoarena/Agência O Globo/.)

Dias antes, governadores de direita foram ao Rio e anunciaram a criação de um “consórcio da paz”, um grupo destinado a combater o crime organizado, embora nenhum deles — Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO), Romeu Zema (MG), Jorginho Mello (SC), Celina Leão (vice do DF) e Eduardo Riedel (MS) — tenha explicado exatamente como isso será feito. Ausente na foto, o governador de São Paulo participou por meio de uma videoconferência, ocasião em que saudou a ação e cutucou o presidente Lula, que havia afirmado antes da operação que traficantes são vítimas de usuários de drogas (ele se corrigiu depois da gafe, mas a fala segue sendo explorada à exaustão pelos adversários). “Não dá mais para tratar o criminoso como vítima. Criminoso não é vítima, o criminoso faz vítimas, tem aterrorizado os cidadãos de bem, cidadãos que o estado precisa proteger. Não agir seria covardia, seria rendição, e o estado do Rio de Janeiro agiu muito bem”, afirmou Tarcísio de Freitas, apontado como o adversário mais competitivo da oposição numa eventual disputa pelo Palácio do Planalto.

Sem ter o que apresentar na área de segurança, o governo federal também pegou carona na operação do Rio, mas em sentido oposto. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, rebateu acusações do governador Cláudio Castro sobre a falta de cooperação do governo federal, afirmou que não foi avisado da operação e disse que o presidente da República estava “estarrecido” com o número de mortes. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, pediu um minuto de silêncio “por todas as vítimas” da operação, colocando na mesma balança policiais e bandidos. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência divulgou um vídeo em que defendeu que o combate ao crime precisa “de mais inteligência e menos sangue” — com um impulsionamento pago, a publicação alcançou mais de 100 milhões de visualizações.

Continua após a publicidade
DISPUTA - Lewandowski e Andrei: reclamações de falta de cooperação
DISPUTA - Lewandowski e Andrei: reclamações de falta de cooperação (Cristiano Mariz/Agência O Globo/.)

O presidente Lula, por sua vez, optou, inicialmente, pelo silêncio — não por convicção, mas por mero cálculo político. Uma pesquisa da AtlasIntel mostrou que 55% dos brasileiros aprovaram a ação, considerada a mais letal da história. Entre os moradores das favelas cariocas, a aprovação chegou a 87%. Um levantamento feito pela empresa Brandwatch nas redes sociais mostrou que 69% dos comentários e compartilhamentos sobre a operação policial eram desfavoráveis ao presidente. A crítica mais comum foi a de que o governo seria conivente com o crime (34%). Cobrado, Lula se pronunciou formalmente uma semana depois.

Em Belém, onde acontece a COP30, o presidente criticou a operação, colocou sob suspeita as conclusões da polícia do Rio de Janeiro e insinuou que teria havido uma chacina e não um confronto com os traficantes. “Vamos ver se a gente consegue fazer essa investigação, porque a decisão do juiz era uma ordem de prisão. Não tinha uma ordem de matança, e houve a matança. Acho bom especificar em que condições ela se deu”, afirmou.

Continua após a publicidade
OBSTÁCULO - Moraes com Castro: restrições a ações nas favelas, segundo os críticos, ampliaram o poder dos criminosos
OBSTÁCULO - Moraes com Castro: restrições a ações nas favelas, segundo os críticos, ampliaram o poder dos criminosos (Philippe Lima/Gov RJ/.)

A fala do presidente aconteceu no mesmo dia em que o Senado instalou a CPI do Crime Organizado. A criação do colegiado foi proposta em fevereiro, o ato foi formalizado em plenário em junho e, desde então, os partidos resistiam a indicar os membros. A segurança pública nunca foi prioridade para a maioria dos parlamentares. Mas agora surge um palco que pode dar extrema visibilidade ao tema. Há muito, as CPIs têm se resumido à espetacularização, à promoção pessoal de alguns parlamentares, a uma mera disputa política que não produz resultados práticos.

A investigação da nova comissão será comandada pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES) e terá a relatoria do senador Alessandro Vieira (MDB-SE) — delegados de polícia, os dois têm um perfil moderado e bom trânsito entre governistas e oposicionistas. “Recentemente, eu e os senadores Contarato e Flávio Bolsonaro nos unimos para aprovar um projeto que endurece o tratamento do adolescente infrator. Esse assunto é um tabu, nós somos de partidos diferentes e a aprovação mostra que o consenso político é possível. Por enquanto, o palanque será deixado de lado”, promete o relator. Um dos primeiros atos da comissão será ouvir governadores dos estados mais e menos seguros, além daqueles que são apontados como berços das principais facções — São Paulo e Rio de Janeiro. De fora da lista inicial, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que deve concorrer à Presidência no ano que vem, entrou em contato com a cúpula do colegiado pedindo para também participar das oitivas — uma das principais bandeiras de campanha dele será justamente a segurança pública. A CPI, é claro, seria um enorme holofote nacional.

Continua após a publicidade
ATENTADOS - Moro e o PCC de Marcola: facção monitorou autoridades em Brasília e planejou sequestro de senador
ATENTADOS - Moro e o PCC de Marcola: facção monitorou autoridades em Brasília e planejou sequestro de senador (Sergio Lima/AFP; Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Três dias após a operação policial no Rio, o governo também encaminhou ao Congresso o chamado PL Antifacção, que prevê pena de até trinta anos para quem liderar organização criminosa. A medida, apresentada pelo ministro da Justiça como um “combate enérgico” à criminalidade, inova ao trazer regramentos sobre a infiltração nas organizações criminosas e prever a asfixia de sistemas financeiros usados para a lavagem de dinheiro. “O projeto dificulta a progressão das penas, endurece alguns conceitos e rompe com aquela visão idealista, que a esquerda tem, de que só a questão social é que gera bandido — e não é. Considero um avanço e uma oportunidade”, afirma Raul Jungmann, ex-ministro da Segurança Pública do governo de Michel Temer. Até o fim do ano, o Congresso também deve se debruçar sobre esse e outros projetos relativos à segurança pública, como o que enquadra as facções criminosas na Lei Antiterrorismo — medida que gera controvérsia e tem mobilizado o governo, que é contra o texto por considerar que ele pode dar margem para algum tipo de intervenção externa.

O autor do projeto, deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), ressalta que as facções atravessam a fronteira do crime comum. Um dos membros da CPI recém-criada, o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) já foi alvo de um plano de sequestro e assassinato orquestrado pelo PCC, conforme revelou VEJA em 2023. A Polícia Federal descobriu a trama e prendeu os criminosos, que já haviam alugado o cativeiro e preparado bombas para um ataque que tinha entre os alvos autoridades de Brasília. “Nós estamos ameaçados de perder a soberania não para uma nação estrangeira, mas para o crime organizado”, afirma Danilo Forte. Exageros à parte, governo, Congresso e Judiciário têm uma rara oportunidade de ajustar os ponteiros da sensatez e apresentar respostas capazes de mitigar a grave e constrangedora situação em que se encontra a segurança pública brasileira.

Publicado em VEJA de 7 de novembro de 2025, edição nº 2969

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

SUPER BLACK FRIDAY

Digital Completo

A notícia em tempo real na palma da sua mão!
Chega de esperar! Informação quente, direto da fonte, onde você estiver.
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 3,99/mês
SUPER BLACK FRIDAY

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 7,50)
De: R$ 55,90/mês
A partir de R$ 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$47,88, equivalente a R$3,99/mês.