Uma arquiteta que prestou depoimento como testemunha nesta sexta-feira, 15, disse que submeteu à ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um projeto de reforma da cozinha da casa do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), que era frequentado por Lula e sua família e é investigado em um processo da Operação Lava Jato. Marisa Letícia morreu em fevereiro de 2017, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC).
Por meio de videoconferência com o juiz federal Sergio Moro, a arquiteta Maria Cecília Castro afirmou que apresentou o projeto à ex-primeira dama depois de ser procurada pelo empresário Fernando Bittar e a mulher dele, Lilian, de quem é sócia, para “modernizar” a cozinha da propriedade. Bittar é um dos donos formais do sítio, que foi reformado pelas empreiteiras Odebrecht, OAS e Schahin ao custo de 1 milhão de reais, obra que o Ministério Público Federal (MPF) diz ser propina a Lula.
Maria Cecília não disse em que ano foi chamada pelo casal Bittar para reformar a cozinha, mas deu a entender que foi depois de 2013. As obras das empreiteiras no sítio Santa Bárbara aconteceram entre o final de 2010 e 2014 e envolveram a compra de uma cozinha planejada da marca Kitchens para a propriedade. Segundo delatores da Odebrecht, como Emílio Odebrecht, a ex-primeira-dama queria que a obra fosse concluída próximo ao final do mandato de Lula, como um “presente” para ele.
Segundo a arquiteta, Fernando Bittar disse que gostaria que o projeto fosse submetido ao “palpite” de uma “tia” sua, que era Marisa Letícia. “[Fernando e Lilian] gostaram do layout, queriam dar continuidade nisso, mas aí queriam mais pessoas dando palpite no projeto. Aí o Fernando pediu para marcar uma reunião com a tia dele para poder ela também dar palpite no projeto. Quando eu cheguei lá encontrei com ele, ele falou ‘eu só vou te avisar que a minha tia é a dona Marisa, só para você não estranhar muito’”, contou Maria Cecília no depoimento.
Conforme a testemunha, Marisa Letícia “não gostou” das ideias dela para a reforma, que precisaria ser mais ampla por causa de um problema estrutural no telhado.
“Tive essa reunião com ela, mostrei o projeto, apresentei, ela entendeu o que eu estava falando, ia ficar um projeto não exatamente como ela gostaria, porque ia ter um pilar no meio da sala, ia ficar uma coisa meio estranha, que ela não gostou muito. Eu falei pra ela: ‘pra ficar bom a gente teria que reformar o telhado da casa’, e aí nisso acho que ela não deve ter achado que ia ficar muito bom e depois disso não tivemos mais contato”, disse a arquiteta, segundo a qual seu trabalho no projeto foi pago por Fernando Bittar.