Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Ação no Rio teve resistência de aliados no Congresso

Presidente da Câmara, Rodrigo Maia destacou que intervenção seria uma medida drástica e que paralisaria pautas no Congresso

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 13 mar 2018, 16h43 - Publicado em 25 fev 2018, 09h06

Na manhã da Quarta-Feira de Cinzas, dia 14 de fevereiro, quando milhões de brasileiros curtiam a ressaca do Carnaval, no Palácio do Planalto começava a tomar forma definitiva o movimento mais arrojado de Michel Temer desde que ele assumiu a Presidência, em maio de 2016. Apesar de ela ser chamada de “jogada de mestre” por assessores fiéis e marqueteiros bem remunerados, a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro deixou feridas ainda abertas na relação de Temer com o Congresso Nacional.

No início, a decisão não foi unânime no meio político, pelo contrário. Ela enfrentou resistências dentro e fora de Brasília, vocalizadas pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE).

Relatos colhidos pelo Estado com fontes que tiveram acesso direto aos fatos ocorridos entre quarta, 14, e sexta-feira, 16, quando a medida foi anunciada, mostram o protagonismo do chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, a resiliência do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), e a resistência inicial de Maia e de Eunício.

Após reuniões tensas, viagens às pressas e atritos entre os Poderes, os artífices palacianos da controversa medida enterraram, numa tacada, a reforma da Previdência, até então o emblema do atual mandato, e utilizaram pela primeira vez na história um dispositivo constitucional que, na semana passada, colocou um general da ativa no comando da Segurança Pública do Rio.

Às 11h da Quarta-Feira de Cinzas, o presidente reuniu assessores para deliberar sobre a crise dos refugiados venezuelanos em Roraima. Mas, como Temer havia voltado do feriado decidido a criar uma pasta para Segurança Pública, as imagens de arrastões em Ipanema acabaram colocando o tema na pauta.

Continua após a publicidade

Participavam da reunião os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Torquato Jardim (Justiça), Moreira Franco e o general Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e Planejamento, Dyogo Oliveira, eram acionados quando necessário. A conclusão foi de que eram necessárias medidas mais eficazes do que o simples envio de tropas do Exército ou da Força Nacional para o Rio.

No dia seguinte, Temer despachou Moreira Franco e o ministro da Defesa, Raul Jungmann, para o Rio. Eles se encontraram com Pezão, às voltas com os estragos causados pela chuva naquele dia, e, no fim da tarde, os três embarcaram num avião rumo a Brasília, onde foram direto para o Palácio da Alvorada. Cerca de meia hora depois, por volta das 19h, Temer chegou. Etchegoyen, Oliveira, Meirelles e Torquato se juntaram ao grupo. Vários cenários foram traçados e Pezão concordou com o plano antes mesmo que a decisão fosse tomada.

Porta-voz

Depois de três horas de reunião, por volta da meia-noite, Temer chamou Maia e Eunício ao palácio. Conforme dois relatos de participantes do encontro colhidos pelo Estado, Moreira Franco foi o porta-voz da decisão. O tom professoral do ministro, sociólogo com doutorado na França, contrariou os parlamentares. “Isso é um prato feito”, teria reclamado Maia. O deputado nega ter dito a frase.

Continua após a publicidade

Eunício argumentou que os únicos fatos relevantes ocorridos no Rio naqueles dias haviam sido os desfiles politizados da Beija-Flor e da Paraíso do Tuiuti e os saques em Ipanema, filmados e televisionados para todo o país. Maia reclamou de não ter sido chamado para a viagem para o encontro com Pezão. “Eu sou do Rio”, disse o deputado. Moreira Franco rebateu. “Você é do Rio, mas não é do governo.” Eunício, então, questionou Pezão. “O senhor vai deixar de ser governador? Concorda com isso?”

Pezão respondeu, resignado, estar convencido de que aquela era a decisão correta. Maia insistiu: a intervenção, nunca aplicada até então, era medida drástica demais e paralisaria a pauta do Congresso. Segundo os relatos, foi o ápice da tensão. O presidente da Câmara interpretou que Torquato estaria minimizando seus argumentos numa conversa paralela com Jungmann, deu um soco na mesa e disparou. “Você não fale! Até hoje estou esperando os nomes dos comandantes da PM que são sócios do crime organizado”, teria dito, relembrando uma declaração antiga do ministro. Torquato deixou a sala. Maia também. Conforme um participante, Eunício precisou sair pelos corredores do Alvorada para fazer o deputado retornar à reunião. Maia negou ao Estado que essa tensão tenha ocorrido.

O clima ficou mais calmo, mas a insatisfação continuou. Eunício reclamou de o Planalto estar atropelando a pauta do Congresso e lembrou que, na abertura do Ano Legislativo, ele próprio apontou a Segurança Pública como prioridade para 2018 e propôs a criação de um fundo para o setor. Temer contemporizou: “Vamos chegar lá, mas temos que fazer alguma coisa porque a situação no Rio é grave”.

Continua após a publicidade

Previdência

Na sequência Eunício se voltou para Meirelles e reforçou que, com a intervenção, não haveria reforma da Previdência, e Moreira Franco revelou a ideia de suspender a medida caso o governo conseguisse os votos para pautar a mudança nas regras da aposentadoria. Senador e deputado alertaram que a estratégia era “maluquice”, mas Temer já havia fechado com o chefe da Secretaria-Geral e só voltou atrás quando o Supremo Tribunal Federal mandou sinais de que não aceitaria a manobra. Já era madrugada quando Eunício e Maia deixaram o Alvorada, convencidos da importância da intervenção e comprometidos a defender a proposta no Congresso.

Mesmo assim, a tensão continuou no dia seguinte. Segundo relatos, a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, soube da intervenção pela TV e fez chegar ao Planalto seu descontentamento. Foi necessário que o palácio acionasse seus bombeiros, entre eles o ministro da Corte Alexandre de Moraes, para evitar uma crise.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.