María Corina Machado, principal líder do movimento de oposição ao regime de Nicolás Maduro, agradeceu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela postura “firme e nítida” para garantir que os verdadeiros resultados das eleições presidenciais na Venezuela no dia 28 de julho sejam reconhecidos. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão controlado pelo chavismo, proclamou reeleito o presidente bolivariano com 51,2% dos votos, contra 44,2% do candidato de oposição, Edmundo Gonzaléz Urrutia, mas não apresentou nenhum boletim de urna ou resultado desagregado que comprovasse os dados.
A declaração de Corina ocorreu em entrevista ao Fantástico no domingo 4, sua primeira entrevista a um veículo de fora da Venezuela desde as eleições. Declarada inelegível pelo regime de Maduro, ela não pôde concorrer no pleito de 28 de julho, mas ainda é a principal voz do movimento desde que venceu as primárias da oposição com 93% dos votos no ano passado.
“O que estamos vivendo nessas horas cruciais vai determinar o futuro não só de milhões de venezuelanos, mas também da estabilidade política da região”, alertou ela.
“Como venezuelana, fico muito agradecida pela resposta de alguns governos, de alguma maneira próximos a Maduro, como Brasil, Colômbia e México, e que assumiram posições muitos firmes para que a verdade eleitoral seja conhecida. Agradeço a posição nítida do governo do Brasil e do presidente Lula, ao exigir que se divulguem os boletins, um a um”, pontuou Corina.
Um levantamento paralelo, realizado por pesquisadores independentes com base nas atas a que conseguiram ter acesso, chegou a um resultado totalmente diferente: 66% para Edmundo González e 31% para Nicolás Maduro. Os números são parecidos com os divulgados pela oposição, que também fizeram sua contagem com base nos cerca de 80% de boletins de urna que conseguiram recuperar, de 67% a 30%.
Reações do Brasil
Pouco após o CNE divulgar os resultados que reelegeram Maduro, o governo brasileiro, apesar de exaltar o “caráter pacífico” da votação, evitou referendar a vitória do atual presidente. O comunicado do Itamaraty afirmou que é preciso observar o princípio da soberania popular “por meio da verificação imparcial dos resultados” e que aguarda, “nesse contexto”, a publicação do órgão eleitoral venezuelano de dados desagregados por mesa de votação.
Segundo a nota, esse é um “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”. Celso Amorim, assessor especial do presidente para política internacional, também afirmou a VEJA na semana passada que “ainda é cedo” para legitimar os resultados.
Em paralelo, a executiva nacional do PT, legenda de Lula, foi por um caminho muito menos cauteloso ao reconhecer o Maduro como reeleito em um processo “democrático e soberano”. Uma fonte diplomática disse a VEJA que isso não significa dissonância no Planalto – “partido é partido, governo é governo”.
Porém, Lula, responsável por tirar Maduro do ostracismo internacional e lhe passar a mão na cabeça perante seguidas barbaridades, tentou fazer vistas grossas ao escândalo evidente. Ao contrário dos venezuelanos em peso e da maior parte da comunidade global, ele não viu “nada de grave, nada de assustador” no processo eleitoral. Declarou ainda que bastava a apresentação das atas de votação para acabar com a “briga” e sugeriu que a oposição fosse reclamar à Justiça venezuelana — que, como sabe, é controlada com mão de ferro por Maduro. O posicionamento cria expectativa de certa saia justa quando ele se encontrar com o esquerdista Gabriel Boric no Chile, na segunda-feira 5 – ele que sim, questionou vocalmente os resultados.