O governo britânico adiou nesta quinta-feira, 23, a quarta votação no Parlamento sobre o controverso acordo para o Brexit da primeira-ministra Theresa May, após críticas de muitos conservadores às concessões feitas pela premiê.
Rejeitado três vezes pela Câmara dos Comuns, o acordo seria apresentado por May aos parlamentares na primeira semana de junho. A votação sobre o projeto de lei, contudo, não foi incluída no programa legislativo anunciado nesta quinta-feira aos deputados.
A nova proposta de May, anunciada na terça-feira 21 e detalhada no Parlamento um dia depois, prevê a manutenção da união aduaneira com a União Europeia (UE) até o final de 2020 e de regras trabalhistas e ambientais do bloco. Também abre a possibilidade aos membros do Parlamento de convocar um novo referendo.
As mudanças no texto apresentado pela primeira-ministra não foram suficientes para convencer o líder trabalhista Jeremy Corbyn – que as considerou sem garantias – ou sua base conservadora. É “pouco mais do que uma versão revestida de seu acordo rejeitado três vezes”, disse Corbyn.
Além de decepcionar a esquerda, a proposta provocou revolta entre os eurocéticos do Partido Conservador de May, que chega a pedir a renúncia da primeira-ministra. Como consequência, Andrea Leadsom, líder do governo na Casa dos Comuns, renunciou ao cargo na tarde desta quarta-feira. “Tivemos compromissos desagradáveis ao longo de todo o caminho, mas sempre mantive meu apoio e minha lealdade”, escreveu Leadsom à May. Após a apresentação do último plano, “parei de acreditar que nossa estratégia atende aos resultados do referendo de 2016” que o Brexit aprovou, apontou ela.
Diante do impasse, May está cada vez mais pressionada por aliados e pela oposição. Segundo o jornal britânico The Times, o governo da premiê está tão debilitado que ela pode renunciar nesta sexta-feira, 24.
“Quanto mais pode aguentar?”, questionou nesta quinta-feira o Daily Express, com uma fotografia de Theresa May em seu carro oficial e com lágrimas nos olhos. “May está prestes a partir após o fiasco de Brexit”, publicou, por sua vez, o jornal The Sun.
A primeira-ministra já havia anunciado sua intenção de deixar o cargo antes do fim do mandato, mas afirmou que só o faria depois de ter concluído o processo do Brexit. A sua saída pode aprofundar a crise do acordo, já que é provável que um novo líder queira uma separação mais decisiva da União Europeia. Se isso ocorrer, seriam maiores as chances de um confronto com o bloco e de uma nova eleição nacional que poderia abrir caminho a um governo socialista.
O prazo para a votação do plano de saída da União Europeia foi estendido para 31 de outubro de 2019, a pedido de May, com a condição de que o Reino Unido participaria das eleições para o Parlamento Europeu, que irá ocorrer entre os dias 23 e 26 de maio.
Ameaça em Downing Street
Na manhã desta quinta-feira, a polícia britânica encontrou um item suspeito na região de Whitehall, em Londres, e fechou as ruas no entorno do gabinete de Theresa May, em Downing Street.
Os agentes direcionaram os turistas que visitavam o local para ruas vizinhas, enquanto especialistas examinavam um pacote suspeito. Pouco depois, a polícia informou que o item encontrado não representava ameaça e liberou o acesso ao local.
(Com AFP e Reuters)