O papa Francisco foi acusado de usar um termo homofóbico durante uma reunião a portas fechadas com bispos, realizada na semana passada, que discutiu a possibilidade de admitir homens gays em seminários. A informação foi divulgada em primeira mão nesta segunda-feira, 27, pelo site de fofocas políticas Dagospia. Outros agências e jornais italianos, como La Repubblica, Corriere della Sera e Adnkronos, também noticiaram a denúncia, com base em relatos de bispos sob condição de anonimato. Nesta terça-feira, 28, o Vaticano publicou um pedido de desculpas pelo incidente, embora não tenha deixado claro se o papa admitia ter usado uma palavra ofensiva para referir-se a homossexuais.
Em Roma, o pontífice teria rejeitado a admissão de homens homossexuais em seminários, “escolas” que formam futuros padres, porque eles correriam o risco de viver uma vida dupla. Em seguida, Francisco teria dito que já há muito “frociaggine” nesses locais (algo como “viadagem” em italiano, um termo violentamente ofensivo). Aos jornais La Repubblica, Corriere e Adnkronos, sacerdotes anônimos disseram que o papa considerou a expressão como uma “piada”, mas causou muita surpresa entre os que estavam presentes. Apenas um bispo alegou que talvez ele não soubesse que a fala era ofensiva.
Segundo a mídia italiana, homossexuais já haviam sido permitidos a participar de seminários em novembro do ano passado, após aprovação da iniciativa em uma reunião do clero. Os integrantes poderiam se inscrever com uma condição: não poderiam praticar sua sexualidade. O sinal verde, no entanto, teria sido barrado pelo pontífice.
Resposta do Vaticano
Nesta terça-feira, 28, o Vaticano publicou uma nota pedindo desculpas pelo incidente, mas não especificou qual foi o termo usado pelo papa na reunião a portas fechadas, nem admitiu explicitamente que ele teria realmente dito uma palavra ofensiva.
“O papa nunca pretendeu ofender ou expressar-se em termos homofóbicos e estende as suas desculpas àqueles que se sentiram ofendidos pelo uso de um termo, conforme relatado por outros”, afirmou o Vaticano em comunicado. “Como ele (papa Francisco) disse em diversas ocasiões, ‘na Igreja há lugar para todos, para todos! Ninguém é inútil, ninguém é supérfluo, há espaço para todos. Assim como nós somos, pessoal.’”
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Posicionamentos de Francisco
Em dezembro, uma decisão do papa Francisco chacoalhou a Igreja Católica: o pontífice deu aval para que casais LGBTQIA+ recebam bênçãos de sacerdotes, defendendo que quem “procura o amor e a misericórdia de Deus” não deve ser sujeito a “uma análise moral exaustiva”.
Mesmo com o suposto avanço, o texto destacava que o casamento é um sacramento vitalício entre “um homem e uma mulher”, além de enfatizar que as bênçãos não são, de forma alguma, equivalentes ao matrimônio. A publicação aproveita para definir o termo “bênção” nas Escrituras, de forma a embasar suas justificativas.
“[Os críticos] me perguntam como é possível [a bênção a casais do mesmo sexo]. Eu respondo: o Evangelho é para santificar a todos. É claro, desde que haja boa vontade”, explicou Francisco em entrevista em janeiro. “Somos todos pecadores: então por que fazer uma lista de pecadores que podem estar na igreja e outra lista de pecadores que não podem estar na igreja? Isso não é o Evangelho.”
Ainda que seja considerado mais progressista em relação aos seus antecessores, Francisco já criticou abertamente a homossexualidade. Em 2018, disse em uma entrevista que ser gay estava “na moda” e que “essa mentalidade, de alguma forma, também influencia a vida da Igreja”. Ele acrescentou que estava “preocupado” com essa “questão séria”. A Igreja Católica Romana considera pecaminosa a relação entre pessoas do mesmo sexo.