Netanyahu decidiu tomar controle total de Gaza e convocará gabinete na terça, diz TV israelense
Decisão foi tomada após fracasso das negociações por acordo de cessar-fogo que devolvesse reféns israelenses, segundo emissora i12
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou nesta segunda-feira, 4, que convocará seu gabinete nesta semana para passar “instruções” sobre a continuação da guerra em Gaza. Em paralelo, a emissora israelense i12 afirmou que o premiê já decidiu tomar controle total da Faixa de Gaza, segundo reportagem com base em fontes do governo do país.
Oficialmente, Netanyahu afirma que as instruções focam na “maneira de alcançar os três objetivos de guerra”. Segundo ele, os objetivos são “derrotar o inimigo, libertar nossos reféns e garantir que Gaza deixe de ser uma ameaça para Israel”.
Sob essa justificativa, Netanyahu deve anunciar a expansão da ofensiva na terça-feira, segundo a emissora. A decisão, mostra a reportagem, foi tomada após o fracasso das negociações por um acordo de cessar-fogo que devolvesse os reféns israelenses ainda sob poder do Hamas.
Atualmente, as Forças de Defesa de Israel controlam aproximadamente 75% da Faixa de Gaza. Sob o novo plano, espera-se que os militares ocupem também o território restante, colocando todo o enclave sob controle israelense. Não está claro o que tal medida significaria para os milhões de civis e grupos humanitários que operam no enclave.
O plano citado pela i12 envolve também a entrada das Forças de Defesa de Israel em áreas onde o serviço de inteligência do país identificou que estão reféns. Dos 251 reféns feitos durante o ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023, que desencadeou a guerra, 49 ainda estão detidos em Gaza, incluindo 27 que, segundo o Exército israelense, estão mortos.
Na semana passada, o ministro do gabinete de segurança israelense Zeev Elkin já havia sugerido que Israel pode anexar partes de Gaza para aumentar a pressão contra o Hamas. Ele definiu a ação como uma “ferramenta de pressão significativa” e acusou o grupo de prolongar as negociações de cessar-fogo para obter concessões israelenses.
A movimentação do governo israelense se dá em meio a um cenário de amplas críticas internacionais e um impasse profundo em negociações de cessar-fogo. Em 24 de julho, o enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Steve Witkoff, anunciou que Washington iria interromper interrompendo negociações e retirar sua equipe de negociação do Catar, acusando o Hamas de não “agir de boa-fé”. Em paralelo, o gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, também confirmou a retirada de seus negociadores para consultas.
Segundo fontes ouvidas pela agência de notícias francesa AFP, a resposta do Hamas incluía propostas de emendas às cláusulas sobre a entrada de ajuda, mapas das áreas das quais o Exército israelense deveria se retirar e garantias para o fim permanente da guerra.
Outra fonte palestina, ouvida pela Reuters, afirmou que o Hamas rejeitou os mapas de retirada propostos por Israel, pois eles deixariam cerca de 40% do território sob controle israelense, incluindo toda a área sul de Rafah e outros territórios no norte e leste de Gaza. Outras duas fontes israelenses confirmaram que o Hamas quer que Israel recue para as linhas que manteve em um cessar-fogo anterior, antes de retomar sua ofensiva em março.
Críticas
Nesta segunda-feira, um grupo formado por 600 militares israelenses aposentados escreveu uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pedindo para que ele pressione Israel a encerrar imediatamente o conflito em Gaza. O movimento é composto por ex-membros do alto escalão da segurança israelense, como Tamir Pard, ex-chefe do Mossad, e Ami Ayalon, ex-chefe do Shin Bet, além do ex-primeiro-ministro Ehud Barak e o ex-ministro da Defesa Moshe Yaalon.
A nova manifestação ocorre após vídeos de dois reféns israelenses aparentemente desnutridos causarem indignação no país. Os registros foram divulgados por militantes do Hamas e da Jihad Islâmica, e condenados por Israel e por líderes ocidentais, como uma forma de mostrar que bloqueios israelenses à entrada de suprimentos afeta também os reféns.
Após a divulgação, Netanyahu conversou com as famílias dos reféns, assegurando que os esforços para a devolução “continuarão constantes e implacáveis”. No entanto, a mídia local divulgou a afirmação de uma autoridade israelense de que a libertação dos reféns aconteceria por meio da “derrota militar do Hamas”.
As fortes restrições a insumos básicos impostas por Israel também vêm causando fome generalizada na região. Segundo um relatório avalizado pela ONU, 93% da população está em estado de vulnerabilidade alimentar e 244 000, em situação “catastrófica”. O fornecimento de mantimentos foi transferido a uma empresa americana apoiada por Israel e Estados Unidos — a GHF, criticada pela inexperiência e pelo viés militarizado da missão que encabeça.
Na semana passada, duas importantes ONGs israelenses, a B’Tselem e a Médicos pelos Direitos Humanos, divulgaram relatórios classificando as ações do governo como “política genocida” em Gaza. Foi a primeira vez que grupos israelenses usaram esse termo publicamente, intensificando a pressão interna.
Também na semana passada, a Corrente Reformista Judaica dos Estados Unidos, a maior do país, culpou o governo israelense pela propagação da fome:
“Bloquear comida, água, remédios e eletricidade — especialmente para crianças — é indefensável”, diz um trecho do posicionamento oficial.
A entidade criticou a tentativa de minimizar o sofrimento humanitário com disputas semânticas: “Ninguém deveria gastar seu tempo debatendo definições técnicas entre fome e subnutrição massiva. A situação é grave. E é letal.”
Até o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert, em entrevista ao The Guardian no início do mês, comparou o plano de construir uma “cidade humanitária” em Rafah a um campo de concentração, dizendo que forçar palestinos a viver ali equivaleria a limpeza étnica.
Ainda assim, o governo e organizações de direita israelenses continuam negando que haja fome em Gaza provocada por suas ações. Isso apesar das evidências divulgadas por agências da ONU, como o sistema IPC (Classificação Integrada de Segurança Alimentar), e até da declaração recente de Donald Trump, que reconheceu a existência de “fome real” e pediu que Israel permita a entrada total de alimentos no território.
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