Militares venezuelanos impedem passagem de ajuda humanitária dos EUA
Ponte Tienditas, na fronteira com a Colômbia, havia sido escolhida para a entrada de remessas de alimentos e remédios, segundo a imprensa local
Militares favoráveis ao regime de Nicolás Maduro bloquearam uma ponte na fronteira com a Colômbia na tarde desta terça-feira, 5, para impedir a entrada de ajuda humanitária na Venezuela.
De acordo com o jornal Tal Cual, a passagem da ponte Tienditas, que liga as cidades de Cúcuta, na Colômbia, e Ureña, na Venezuela, foi fechada por um tanque de transporte de combustível e um gigantesco contêiner de carga.
O local havia sido escolhido para a entrada de remessas de alimentos e remédios vindos dos Estados Unidos, segundo a imprensa venezuelana.
Franklyn Duarte, deputado no estado fronteiriço venezuelano de Táchira, disse à agência de notícias AFP que “efetivos das Forças Armadas bloquearam a passagem” durante a tarde.
Segundo Duarte, a passagem na ponte foi bloqueada depois que um incidente confuso ocorreu em Ureña quando os soldados chegaram em veículos blindados para vigiar a fronteira.
Três pessoas ficaram feridas, diz o legislador, depois que um tanque atingiu alguns motociclistas. “Eles podem colocar uma parede e não impedirão a entrada da ajuda”, disse o deputado.
A ponte Tienditas foi construída após um acordo entre os governos de Nicolás Maduro e do ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos em 2014. A passagem, contudo, ainda não havia sido inaugurada.
No entanto, segundo a imprensa, seria uma das rotas para a entrada de ajuda humanitária vinda do exterior para ser distribuída pelo governo interino do opositor Juan Guaidó.
Os Estados Unidos, que não descartam uma ação armada na Venezuela, ofereceram uma ajuda inicial de 20 milhões de dólares, o Canadá de 40 milhões, e a Comissão Europeia de outros 5 milhões de euros – uma “esmola”, segundo o governo venezuelano.
Em seu discurso ao Congresso sobre o Estado da União nesta terça, o presidente americano Donald Trump ratificou que apoia “o povo venezuelano” e condenou “a brutalidade do regime de Maduro”.
Maduro acusa Washington – com o qual rompeu relações diplomáticas – de usar Guaidó como “fantoche” para derrubá-lo e se apropriar do petróleo venezuelano, e os países europeus de apoiar esses “planos golpistas”.
O presidente da Assembleia Nacional se autoproclamou presidente interino da Venezuela em 23 de janeiro, afirmando que Maduro “usurpou” o poder ao tomar posse após eleições que não contaram com a participação da oposição e foram fraudadas.
Fortalecido com o reconhecimento de 20 governos europeus, que se soma ao de Estados Unidos, Canadá e 12 países latino-americanos, Guaidó vem pedindo aos militares e ao governo chavista que liberem a entrada de ajuda humanitária no país para aliviar os efeitos da crise econômica e social.
Negociações
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, e seu homólogo da Colômbia, Carlos Holmes Trujillo, conversaram nesta terça-feira sobre como enviar as doações ao povo venezuelano.
Pompeo e Trujillo se reuniram durante pouco mais de uma hora no Departamento de Estado, em Washington.
“Aqui o fundamental é que essas portas que estiveram fechadas durante a ditadura foram abertas pelo novo presidente Juan Guaidó. O que a Colômbia está fazendo é cooperar para que o efeito dessa ajuda humanitária chegue ao povo venezuelano, que é o que o povo necessita”, afirmou Trujillo.
Na semana passada, o governo dos Estados Unidos confirmou que estava estudando a possibilidade de abrir um corredor humanitário, algo que o chavismo interpreta como uma ameaça porque poderia requerer a participação de tropas, fossem americanas ou de algum outro país da região.
Perguntado se a Colômbia está considerando o envio de soldados, Trujillo respondeu: “Não, não, estamos falando de ajuda humanitária”.
O Grupo de Lima, na sua reunião desta segunda-feira 4 em Ottawa, no Canadá, fixou o compromisso de não considerar a opção militar para forçar a saída de Maduro e decidiu aumentar a pressão econômica.
Brasil
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou nesta terça-feira que o Brasil também avalia a forma de disponibilizar ajuda humanitária à Venezuela.
“Nós estamos criando um processo de coordenação lá em Brasília para ver exatamente como seria a logística, como nós poderíamos ajudar com essa questão do trânsito da ajuda humanitária e da disponibilização da ajuda humanitária como parte também do nosso esforço de consolidar o processo de transição democrática”, afirmou em Washington, sem responder se a ajuda humanitária à Venezuela pode entrar pela fronteira com o Brasil.
Ele descartou, contudo, a possibilidade de receber tropas americanas em território brasileiro para trabalhar na abertura de um canal de apoio à população do país vizinho. “Qualquer que seja a maneira de fazer chegar ajuda humanitária temos certeza que não é necessário ter tropas americanas ou de outro país, nós teríamos condições de proporcionar a logística para isso com nossos próprios meios”, afirmou Araújo.
O chanceler se reuniu na manhã desta terça com o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, em Washington. Segundo o chanceler, os dois conversaram sobre “visões de mundo dos dois países” e da expectativa de que Brasil e EUA possam fazer muita coisa em conjunto, como no caso da Venezuela.
“É uma visão estratégica de como nós precisamos estar mais juntos em muitas coisas, tanto na parte econômica quanto em segurança e defesa”, afirmou. Ainda segundo Araújo, os dois países têm visto a situação da Venezuela de maneira muito semelhante e com “apoio total ao processo de transição democrática” presidido por Guaidó.
“Coincidimos na necessidade de continuar trabalhando, no nosso caso tanto individualmente quanto através do Grupo de Lima, mas sobretudo esse compromisso muito grande com a redemocratização da Venezuela é uma coisa dos dois países”, afirmou o chanceler.
(Com AFP, EFE e Estadão Conteúdo)