Na mira do Congresso e da Justiça nos Estados Unidos por vários atos contrários aos interesses do país, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan foi, no entanto, recebido em Washington, na quarta-feira 13, com sorrisos e afagos por Donald Trump. Explica-se: Erdogan é o tipo de sujeito de que o presidente dos EUA gosta — autoritário, conservador e pródigo em salamaleques para agradar a ele. Atolado em problemas dentro de casa, Erdogan, 65 anos, há dezesseis no poder, tem demonstrado talento para aparar limões e produzir limonadas na política externa, recuperando assim o prestígio interno que a recessão econômica e a repressão política vêm solapando. “Ele vê Trump como alguém fácil de ser manipulado”, resume Howard Eissenstat, especialista em Oriente Médio da Universidade St. Lawrence, nos Estados Unidos.
O golpe de mestre do presidente turco foi dado em outubro. Em conversa por telefone com Trump, ele o convenceu a retirar os soldados americanos estacionados no norte da Síria, na fronteira com a Turquia. Em seguida, pôs-se a aniquilar os curdos, etnia que qualifica de “terrorista” e que, até então, era a maior aliada dos Estados Unidos na região, o que atiçou a ira até de republicanos no Congresso americano. Para agradar a outro colega “difícil”, o russo Vladimir Putin, ele comprou, por 2,5 bilhões de dólares, um sistema antiaéreo da Rússia — transação proibida pela Otan, aliança da qual a Turquia faz parte. Por essas e outras — como a suspeita de que autorizou bancos turcos a receber 20 bilhões de dólares em transferências do Irã, ignorando o bloqueio econômico ao país —, a Turquia está sob ameaça de duras sanções dos Estados Unidos. Em outra frente, na Europa, Erdogan diz que vai “abrir as portas” para 3,6 milhões de imigrantes retidos na Turquia se não receber recursos para devolvê-los à Síria. O encontro em Washington é um grande passo para limpar sua barra.
Publicado em VEJA de 20 de novembro de 2019, edição nº 2661