O item que anda em falta no menu da Vila Olímpica
Chefs estrelados e pratos do mundo todo não estão dando conta de 100% das necessidades dos atletas
Pisar na área de refeições da Vila Olímpica, no subúrbio de Saint-Denis, palco das competições de natação, atletismo e rúgbi, é ter uma provinha do que é a gastronomia francesa. O passeio começa por uma boulangerie, onde os atletas podem se aventurar por um dos mais cultivados esportes nacionais, cozinhar, brincando de produzir o pão que vão comer. Aí tem um plat du jour, receita que muda a cada dia com variados temperos – uma vez, serviram uma vagem com creme de amoras que fez muita gente suspirar.
São iguarias produzidas por chefs de alto calibre, fornecendo um mimo ao paladar de quem vai duelar nas arenas. Depois, vem uma grande área de alimentação, com receitas de nacionalidades diversas. Mesmo com tudo isso, algumas delegações estão sentindo falta de um nutriente básico para mover corpos atléticos – a proteína.
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E não é por acaso que ela aparece por lá em versão reduzida: a ambição-mor desta Olimpíada é expor uma Paris sustentável nas várias camadas da vida, e é nesse ponto que o menu da Vila entra na história. Os organizadores decidiram dar uma diminuída nas carnes, vermelha e branca, em busca de um cardápio menos nocivo ao ambiente.
No lugar, ingressaram com tudo no bufê as opções vegetarianas. “Eles já estão cientes da questão. Os atletas precisam de proteína e tenho certeza de que vão ajustar isso o mais rápido possível”, diz Joyce Ardies, gerente de Jogos do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), envolvida com as engrenagens logísticas dos 177 atletas que chegaram até agora.
ROTA CARNÍVORA
No caso dos brasileiros, eles vêm encontrando uma boa alternativa no Château de Saint-Ouen, um palacete do século XIX não muito longe da Vila, onde são recepcionados ao chegar em Paris, recebem massagem, fisioterapia e terapia, têm quadra extra para treinar e, sim, podem suprir todas as suas necessidades proteicas, com fartura.
O restaurante instalado ali, que vem recebendo gente de todas as modalidades – na quarta-feira 24 Rayssa Leal, a Fadinha do skate, chamava atenção entre os comensais – tem de tudo um pouco. Arroz, feijão, bife acebolado, estrogonofe, linguiça… E dá-lhe proteína.
Outro dia, Rogério Sampaio, que levou um ouro no judô em Barcelona e hoje é diretor do COB e chefe da missão olímpica, esbarrou com um cheeseburger na Vila e encheu-se de alegria. Só não foi de todo completa por um motivo: “Faltou a batata frita.” Assada tinha.
Banir a fritura que orna tão bem com os boeufs bourguignons e os steak tartares tão comuns nos bistrôs da cidade é outra das decisões alimentares tomadas pela organização. Também os produtos que abastecem a cozinha responsável por umas 30 000 refeições diárias vêm preferencialmente da França, tudo para encurtar o traslado e tentar pôr em prática a filosofia carbono zero. Neste cenário, foie gras, evidentemente, consta no rol das palavras impronunciáveis. Zelar por boas escolhas à mesa é uma preocupação legítima, mas que um bom bife com batata frita faz falta, isso faz.