Zeina Latif: Corte de juros tem impacto modesto
Para economista, medida não muda quadro atual da economia brasileira
O Comitê de Política Monetária do Banco Central anunciou nesta quarta-feira, 31, redução de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, para 6% ao ano. “Um ciclo de corte agora é uma redução mais modesta do que se viu em lá trás, quando o país saiu de uma Selic de 14,25% ao ano em 2016 e foi para 6,5%. Agora, já não é a mesma magnitude. E isso já mostra que há limites para beneficiar o crescimento da economia. Terá um impacto modesto”, afirma Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos.
Segundo a economista, a medida pode trazer uma melhora na confiança do empresário, pode ajudar a fomentar os mercados de capitais e de crédito, mas não vai mudar o quadro econômico atual. “Nós temos um problema maior. O grosso dessa fraqueza econômica é do lado da oferta. Estamos fracos estruturalmente. E, nesse caso, a contribuição dos juros é marginal.”
De acordo com estudo elaborado pela XP, o potencial de crescimento do país no longo prazo, considerando a tecnologia do parque industrial, a qualidade da mão de obra e da infraestrutura, está em torno de 1%. Esse número já foi de até 3,5% na média das gestões FHC e Lula. “Depois de tantos equívocos de política econômica e de má alocação de recursos, esse é o resultado do custo para a economia: essa crise longa, que reduz a taxa de investimento e torna a retomada ainda mais difícil”, afirma Zeina.
A expectativa da economista é que a Selic termine este ano em 5%, totalizando um corte de 1,5 ponto percentual em relação aos 6,5%, que vigorava desde março de 2018. O Copom ainda terá mais três reuniões até o final deste ano (setembro, outubro e dezembro). Apesar de ter um impacto modesto, a medida poderá estimular setores mais ligados ao crédito, como construção civil e aquisição de carros, segundo a economista.
Redução de juros nos Estados Unidos
O Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, também reduziu nesta quarta-feira, 31, a taxa básica de juros do país, em 0,25 ponto percentual. Para Zeina, essa medida deixa “o dólar mais comportado”. “Ela reduz a volatilidade, aumenta o fluxo de recursos para o Brasil, mas crescimento econômico não traz. O corte pode até atenuar a desaceleração americana, mas é pouco e não é para já.”