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Vai ficar mais caro ou mais barato viajar para a Argentina?

A esperança de visitar os hermanos por um preço amigável ficou mais distante com a mudança de regime de câmbio

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 abr 2025, 18h28 - Publicado em 15 abr 2025, 17h14

Por décadas, a Argentina foi um dos destinos favoritos dos turistas brasileiros — e de muitos outros latino-americanos —, em parte por seu charme europeu, suas carnes suculentas e seu câmbio favorável. A combinação de uma moeda cronicamente desvalorizada e uma economia dolarizada de fato tornava Buenos Aires, Mendoza ou Bariloche quase irresistíveis. Mas, nos últimos anos, esse cenário mudou radicalmente. A Argentina, para muitos visitantes, deixou de ser uma pechincha. A esperança de visitar os hermanos por um preço mais amigável ficou ainda mais distante com a mudança de regime de câmbio, anunciada pelo presidente Javier Milei na última sexta-feira 11.

Segundo o índice Big Mac, criado pela The Economist em 1986 como um termômetro informal de paridade de poder de compra, o país sul-americano ostenta o hambúrguer mais caro da América Latina e o segundo mais caro do mundo: 7,37 dólares. Há um ano, o mesmo sanduíche custava metade disso em dólares. A inflação em pesos continua corroendo o poder de compra interno, mas a valorização real da moeda local transformou os preços argentinos em algo que poucos esperavam: caros em dólar. A mudança se deve a um arranjo monetário que vem sendo implementado desde a posse de Milei.

Ao assumir a Casa Rosada, Milei elegeu o combate à inflação como prioridade absoluta. Para isso, promoveu um ajuste fiscal severo, enxugou gastos, cortou subsídios e adotou uma política cambial heterodoxa: em vez de corrigir o câmbio de forma proporcional à inflação, congelou a cotação oficial do dólar em um patamar artificialmente baixo. O resultado foi um fortalecimento do peso, o que permitiu uma desaceleração na inflação, enquanto o dólar perdia poder de compra. Na prática, isso significou o surgimento da chamada “inflação em dólares”: os preços locais continuaram subindo, mas, como o câmbio oficial permanecia travado, o valor das coisas, convertido à moeda americana, disparou. O Big Mac virou um símbolo disso. E os turistas, especialmente os brasileiros, que se acostumaram a trocar reais por pesos no câmbio paralelo – o famoso “dólar blue” –,  passaram a sentir no bolso.

Até recentemente, a Argentina operava sob um rígido controle cambial conhecido como “cepo”, que impunha restrições à compra e transferência de dólares por indivíduos e empresas. Esse cenário fomentou um mercado paralelo de câmbio, o chamado “dólar blue”. Como o dólar blue tinha valor muito mais elevado em relação ao dólar comercial, os estrangeiros conseguiam gastar menos para comprar pesos argentinos, tornando-se uma alternativa vantajosa para os turistas. 

Na sexta-feira, no entanto, o governo Milei anunciou o fim do câmbio fixo e a unificação do mercado de câmbio. O novo regime elimina o “cepo”, o conjunto de restrições cambiais, e o peso argentino passa a flutuar dentro de uma banda entre 1.000 e 1.400 pesos por dólar, sem intervenção do Banco Central. A faixa móvel será ajustada em 1% ao mês, segundo o governo. 

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O economista Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, explica que, com a recente flexibilização do câmbio e a estabilização do peso argentino, a diferença entre o câmbio oficial e o paralelo diminuiu consideravelmente. “Anteriormente, os turistas brasileiros podiam se beneficiar de taxas de câmbio mais favoráveis no mercado paralelo, tornando os custos de viagem mais baixos. Agora, com a unificação cambial, essa vantagem foi reduzida”, diz.

Isso significa que, infelizmente, viajar ao país não vai ficar mais barato. “O “paraíso das pechinchas” que os brasileiros encontravam em Buenos Aires, Bariloche ou Mendoza já não será mais o mesmo”, diz Elaine Domenico, especialista em investimentos e sócia da The Hill Capital. Além da mudança no regime cambial, ela alerta que a inflação interna continua sendo um grande desafio por lá e ela impacta diretamente o custo da estadia, das refeições, das atrações turísticas. “Em outras palavras: a conta final da viagem aumentou, mesmo que o câmbio oficial esteja um pouco mais organizado”, diz.

O chefe de câmbio da B&T XP, Diego Costa, afirma que aquela imagem de que “na Argentina tudo é barato” pode não se sustentar diante desse novo arranjo, especialmente se o país não conseguir estabilizar sua economia, diz. Se o plano de Milei for bem-sucedido, a Argentina tende a se tornar mais estável, previsível e atrativa, tanto para investidores quanto para visitantes. Mas, por ora, o turista brasileiro deve encarar a transição com menos otimismo e mais cautela, já que os efeitos da liberalização ainda estão longe de se traduzirem em equilíbrio econômico”, ressalta.

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A nova fase vem acompanhada de um acordo com o FMI de 20 bilhões de dólares para recapitalizar o Banco Central e sustentar o processo de desinflação. A expectativa do ministro da Economia, Luis Caputo, é que a moeda se torne “mais saudável” e que a confiança permita, mais à frente, cortes de impostos e retomada do crescimento. Por ora, porém, a confiança dos turistas parece estar indo embora junto com as promoções que tornavam Buenos Aires irresistível.

Como a Argentina saiu de destino barato para caro?

Ao assumir a Casa Rosada, Milei elegeu o combate à inflação como prioridade absoluta. Para isso, promoveu um ajuste fiscal severo, enxugou gastos, cortou subsídios e adotou uma política cambial heterodoxa: em vez de corrigir o câmbio de forma proporcional à inflação, congelou a cotação oficial do dólar em um patamar artificialmente baixo. O resultado foi um fortalecimento do peso, o que permitiu uma desaceleração na inflação, enquanto o dólar perdia poder de compra. Na prática, isso significou o surgimento da chamada “inflação em dólares”: os preços locais continuaram subindo, mas, como o câmbio oficial permanecia travado, o valor das coisas, convertido à moeda americana, disparou. O Big Mac virou um símbolo disso. Segundo o índice Big Mac, criado pela The Economist em 1986 como um termômetro informal de paridade de poder de compra, o país sul-americano ostenta o hambúrguer mais caro da América Latina e o segundo mais caro do mundo: 7,37 dólares. Há um ano, o mesmo sanduíche custava metade disso em dólares.

Os turistas, especialmente os brasileiros, que se acostumaram a trocar reais por pesos no câmbio paralelo – o famoso “dólar blue” –  passaram a sentir no bolso esse encarecimento desde as mudanças implementas por Milei. Agora, nem mesmo esse mercado alternativo pode aliviar o bolso dos turistas, que terão que encarar o mercado oficial de câmbio e as oscilações da economia argentina.

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