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Vai e Volta: Os deslizes do governo que minam a popularidade de Lula

Gestão enfrenta um ciclo desastroso de comunicação e recuos. Isso tem ofuscado ações importantes do governo, minando a popularidade do presidente

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 jan 2025, 12h01

Nas últimas semanas, o governo brasileiro se viu envolvido em um turbilhão de desinformações, gerando confusão entre a população e resultando em recuos políticos e econômicos. O mais recente episódio foi o anúncio de que a Receita Federal aumentaria a fiscalização sobre transações financeiras. Embora essa prática já estivesse em vigor para bancos tradicionais, a alteração proposta elevaria o limite de fiscalização de R$ 2 mil para R$ 5 mil para pessoas físicas, e de R$ 6 mil para R$ 15 mil para jurídicas, incluindo todas as operações realizadas via TED, Pix, fintechs e operadoras de crédito. O plano parecia ser uma medida necessária para modernizar o controle financeiro, mas rapidamente a notícia foi distorcida, alimentando uma narrativa de que o governo estaria prestes a taxar as transações via Pix.

A resposta pública foi rápida e negativa. A confusão foi tamanha que, entre os dias 4 e 10 de janeiro de 2025, houve uma queda de 10,9% nas transações Pix em comparação com o mês anterior. A notícia falsa de que haveria um imposto sobre o sistema de pagamento teve um impacto imediato, forçando o governo a se retratar, embora o mal já estivesse feito. Esse episódio simboliza uma sucessão de tropeços na comunicação, que tem desgastado a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já enfrenta um índice de desaprovação de 44%.

Esses erros de comunicação têm sido recorrentes. Recentemente, o governo anunciou uma mudança na chefia da Secretaria de Comunicação, com o publicitário Sidônio Palmeira substituindo o deputado Paulo Pimenta. A troca foi vista como uma tentativa de corrigir a narrativa fragmentada e confusa que tem caracterizado o governo. A nova equipe comunicacional terá a difícil tarefa de reverter a percepção pública de um governo que não consegue se fazer entender.

Outro episódio emblemático foi a polêmica em torno da “taxa das blusinhas”, que se refere à tributação sobre compras internacionais de até US$ 50, antes isentas. Lula, inicialmente, se opôs à medida, sugerindo que poderia vetá-la. No entanto, o lobby do varejo nacional, que alegava estar sendo prejudicado pela concorrência de sites chineses, prevaleceu, e o governo cedeu, implementando a taxação. A decisão não passou despercebida e se somou a uma lista crescente de revezes políticos.

Outro descompasso recente foi o anúncio do pacote de ajuste fiscal, acompanhado pela ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para aqueles que ganham até R$ 5 mil. Embora a isenção fosse amplamente apoiada pela população, o momento do anúncio foi criticado por economistas, que o viram como uma tentativa populista de contrabalançar o impopular pacote de austeridade. O efeito foi um desconforto entre a equipe econômica, que esperava uma narrativa mais focada em responsabilidade fiscal.

A hesitação do governo em lidar com a desoneração da folha de pagamentos foi outro ponto de fricção. Desde o governo Dilma Rousseff, essa política permitia a setores específicos uma renúncia fiscal significativa. Contudo, o atual governo, comprometido com a promessa de zerar o déficit, tentou restringir o benefício. Após pressão de setores econômicos, a desoneração foi mantida para 2024, com a tributação sendo retomada de forma gradual a partir de 2025. Essa “vitória parcial” deixou claro que, mesmo em temas centrais, o governo é frequentemente forçado a ajustar seu discurso.

As dificuldades de comunicação do governo não se restringem à política interna. O presidente Lula iniciou seu mandato criticando o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, acusando-o de manter as taxas de juros altas para beneficiar o setor financeiro. Essas declarações criaram desconfiança, em especial com ameaça de acabar com a independência do Banco Central, adquirida em 2019.

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Outro descompasso recente foi o anúncio do pacote de ajuste fiscal, acompanhado pela ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para aqueles que ganham até R$ 5 mil. Embora a isenção fosse amplamente apoiada pela população, o momento do anúncio foi criticado por economistas, que o viram como uma tentativa populista de contrabalançar o impopular pacote de austeridade. O efeito foi um desconforto entre a equipe econômica, que esperava uma narrativa mais focada em responsabilidade fiscal.

Com tantos erros e correções forçadas, a gestão Lula enfrenta um ciclo vicioso de comunicados precipitados, desinformação e recuos. Isso tem ofuscado ações importantes do governo, como o Bolsa Família, o reajuste do salário mínimo, o programa Desenrola para renegociação de dívidas e a isenção do Imposto de Renda, ainda não implementada. Esses avanços importantes, que poderiam elevar a popularidade do governo, estão sendo mascarados pelos tropeços. A falta de clareza e a aparente desorganização vêm alimentando a desconfiança, levando a uma queda na popularidade e complicando ainda mais o cenário político e econômico do país.

Enquanto a popularidade do governo se desgasta, a dúvida persiste: a nova liderança na comunicação conseguirá transformar essa narrativa fragmentada e evitar mais vai-e-vem em 2025? O tempo para corrigir o curso é curto. Com o próximo ano sendo o último do mandato de Lula, a administração terá que encontrar um delicado equilíbrio entre a manutenção da responsabilidade fiscal e o atendimento das crescentes demandas sociais, sem comprometer ainda mais sua base de apoio. O desafio será caminhar nessa linha tênue sem perder popularidade e, ao mesmo tempo, assegurar a confiança dos mercados e a credibilidade institucional.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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