UE volta atrás e adia retaliação em busca de negociação com os EUA
O bloco europeu havia anunciado tarifas como forma de pressão para que Donald Trump suspendesse as barreiras comerciais impostas à UE

O comissário responsável pelo Comércio e Segurança Econômica da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, enfrenta uma missão diplomática digna dos tempos de guerra comercial: convencer a Casa Branca a abandonar seu arsenal tarifário. O representante desembarcou em Washington no domingo 13, onde deve permanecer durante essa semana em busca de um acordo com o governo do republicano Donald Trump.
A União Europeia é, além dos países asiáticos, uma das regiões mais afetadas pelas recentes medidas tarifárias dos Estados Unidos. Desde o mês passado, o bloco de 27 países tem sido alvo de tarifas de importação de 25% sobre aço, alumínio e automóveis. Além disso, passou a enfrentar o acréscimo de 20% sobre quase todos os demais produtos com as tarifas recíprocas, pacote que foi temporariamente suspenso. A UE respondeu, na quarta-feira, 9, aplicando tarifas de 25% aos produtos americanos.
Como resposta a pausa de 90 dias dadas por Trump, o bloco europeu também congelou suas medidas retaliatórias até o dia 14 de julho. A pausa, anunciada pela Comissão Europeia nesta segunda-feira, 14, tem efeito legal a partir de terça-feira, 15. “Estamos fazendo progresso enorme”, disse Kevin Hassett, assessor da Casa Branca sobre as negociações entre os países.
Caso os EUA não aceite um acordo, a UE ameaça tributar receitas de gigantes da tecnologia americana, como Google, Meta e Amazon. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já deu o recado ao dizer que está “desenvolvendo medidas retaliatórias”, inclusive sobre publicidade digital, sinalizando que a Europa está disposta a tocar no nervo sensível do Vale do Silício, algo que outros países — incluindo China — também vêm ensaiando.
Se o objetivo de Trump é reconstruir a base industrial americana, o efeito colateral é um mundo mais fragmentado e menos confiável para o capital. De acordo com um estudo recente da Peterson Institute for International Economics, as guerras tarifárias dos últimos anos já retiraram entre 0,3% e 0,7% do PIB global. Para a UE, a continuidade deste cenário ameaça a espinha dorsal de sua economia: a exportação de bens de alto valor agregado, como carros, maquinário e aeronaves.
Ao optar por negociar, a Europa ganha tempo — mas não necessariamente vantagem. Os próximos 90 dias serão cruciais. Se a diplomacia de Sefcovic falhar, o continente poderá se ver forçado a adotar uma versão menos elegante do que sempre tentou evitar: uma política de espelho, onde cada tarifa americana encontra sua réplica europeia.
Ao fim, o que está em jogo é o futuro da globalização. E se o protecionismo americano persistir como modelo, mesmo aliados históricos como a UE poderão decidir que, para sobreviver, é preciso aprender a guerrear com as mesmas armas.