ASSINE VEJA NEGÓCIOS

Têxteis, siderurgia, eletrônicos e mais: indústria teme invasão da China após tarifaço de Trump

Após ser taxada em 125% pelos Estados Unidos, China pode desviar parte das exportações para o Brasil e empresas emitem alerta

Por Márcio Juliboni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 abr 2025, 21h09 - Publicado em 9 abr 2025, 17h18

Diversos setores da indústria brasileira temem ser apanhados pelo fogo cruzado da guerra comercial travada entre os Estados Unidos e a China, as duas maiores economias do mundo. A escalada do embate, nos últimos dias, acirra o temor de que o Brasil seja invadido por produtos chineses e de outras nações da Ásia que seriam, originalmente, destinados ao mercado americano. Entre os setores que já manifestaram sua preocupação estão o têxtil, o calçadista e o de eletroeletrônicos.

Desde sua posse em janeiro, o presidente Donald Trump promoveu sucessivos aumentos das tarifas cobradas sobre as importações chinesas. Inicialmente, o republicano estabeleceu uma sobretaxa de 10%. Em março, a alíquota subiu para 20%. Em 2 de abril, quando assinou a ordem executiva que estabelece tarifas recíprocas contra todos os parceiros comerciais, Trump estabeleceu uma segunda taxa de 34% sobre as mercadorias chinesas. Com isso, a alíquota total seria de 54%.

A China reagiu com a imposição de uma sobretaxa também de 34% sobre os produtos americanos. Trump determinou, em resposta, uma terceira taxa de 50%, elevando a sobretaxa para um total de 104%. O aumento foi acompanhado por um ultimato da Casa Branca para que Pequim recuasse e retirasse a sobretaxa de 34%. Em vez disso, a China determinou que a alíquota subisse para 84%. Nesta quarta-feira 9, Trump suspendeu por 90 dias a vigência das tarifas recíprocas (exceto a tarifa mínima de 10% aplicada a todos os países, incluindo o Brasil). A colher de chá, contudo, não se aplica à China, cuja sobretaxa total foi elevada hoje para 125%.

É nesse contexto que a indústria teme que as mercadorias que os chineses pretendiam vender nos Estados Unidos acabem desviadas para cá. É verdade que a relação comercial com a China tem sido lucrativa para o Brasil. No ano passado, por exemplo, acumulamos um superávit de 30,7 bilhões de dólares, mas isso não significa que todos os setores sejam igualmente beneficiados.

A indústria têxtil foi uma das primeiras a alertar sobre os riscos de uma invasão asiática, liderada pela China, mas também por produtos de outros países como o Vietnã e o Camboja, cujas sobretaxas para entrar no mercado americano serão de 46% e 49%, respectivamente, se Trump levar adiante o plano de restaurá-las dentro de 90 dias. Em nota à imprensa, a Abit, que representa o setor, afirmou que o protecionismo americano “representa um grande risco para a indústria têxtil e de confecção do Brasil”.

Continua após a publicidade

“Com a perda de competitividade nos Estados Unidos, países altamente taxados podem intensificar suas exportações para o mercado brasileiro, muitas vezes por meio de práticas desleais de comércio, como subsídios e dumping. Essa avalanche de produtos importados pode prejudicar a produção nacional, afetando investimentos e empregos”, afirma a associação.

A preocupação é compartilhada pelo setor calçadista, que teme a concorrência dos mesmos países asiáticos. Segundo a Abicalçados, que representa o setor, a imposição de sobretaxas muito maiores à China, ao Vietnã e à Indonésia pode desviar parte da produção destinada aos americanos para o Brasil. Haroldo Ferreira, presidente da associação, afirmou em nota à imprensa que a situação “deve fazer com que os asiáticos busquem alternativas para desovar sua produção. E, entre essas alternativas, certamente teremos o próprio mercado brasileiro e países para onde exportamos nossos calçados.”

Os fabricantes de eletroeletrônicos também emitiram alerta semelhante. Para a Abinee, que representa o setor, o Brasil não pode entrar na guerra tarifária, mas “deve sim se armar para enfrentar uma concorrência ainda maior no mercado interno, uma vez que países como China, Coreia do Sul e Vietnã deverão redirecionar suas exportações para outros mercados”.

Continua após a publicidade

A Abinee recomenda ainda que a conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia seja acelerada, para que o país consiga “ampliar suas exportações para a Europa, aproveitando-se de uma demanda crescente por produtos manufaturados no Brasil”.

A importação predatória de produtos chineses já é uma realidade para alguns setores, como a siderurgia. Nos últimos anos, as siderúrgicas chamam a atenção para o aço chinês que chega aos portos brasileiros por preços inferiores aos do minério de ferro necessário para fabricá-lo. No ano passado, o governo adotou um sistema de cotas e tarifas para frear as importações, mas a avaliação geral é de que a medida fracassou antes mesmo do fim do prazo de vigência, no mês que vem. Agora, o setor defende que o governo adote ações mais duras, como a imposição de uma sobretaxa de 25% sobre todas as importações de produtos siderúrgicos da China e o fechamento de brechas legais, como a entrada de aço pela Zona Franca de Manaus.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas R$ 5,99/mês*
ECONOMIZE ATÉ 59% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Nesta semana do Consumidor, aproveite a promoção que preparamos pra você.
Receba a revista em casa a partir de 10,99.
a partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.