Superávit primário no início de 2025 depende mais de receitas, do que de corte de gastos
Instituição Fiscal Independente do Senado alerta que freada da economia, nos próximos meses, dificultará o cumprimento da meta fiscal

O governo deve apresentar um superávit primário de 54,2 bilhões de reais no primeiro bimestre, segundo os cálculos da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado. A projeção representa um salto de 156% sobre os 21,2 bilhões do mesmo período do ano passado. O resultado, contudo, deve ser visto com “cautela”, segundo os economistas Alexandre Andrade e Pedro Souza, responsáveis pela estimativa. A razão é que, para fechar no azul, o governo dependeu muito mais da maior geração de receitas, como a arrecadação de impostos, do que do corte de gastos anunciado em novembro e aprovado pelo Congresso no mês seguinte.
“Essa melhora no resultado primário deve ser vista com cautela”, alertam os economistas da IFI. “Os números ainda não indicam, de maneira clara, os efeitos das medidas aprovadas pelo Legislativo em dezembro passado sobre a dinâmica de alguns grupos de despesa.” Entre os exemplos citados pela dupla está o forte crescimento dos gastos, neste início de ano, com o abono-salarial, o seguro-desemprego e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
De acordo com a IFI, as despesas com aposentados e pensionistas da Previdência Social cresceram 2,3% no primeiro bimestre, quando comparadas com o mesmo período do ano passado, somando 150 bilhões de reais. O desempenho representa uma desaceleração, pois, no ano passado, a rubrica aumentou 4,9% no acumulado de janeiro e fevereiro.
O abono salarial e o seguro-desemprego, contudo, avançaram 4,4% neste começo de 2025, alcançando 13,1 bilhões de reais. O maior salto foi registrado pelo BPC. Os gastos com o benefício subiram 13,5% e somaram 20,4 bilhões de reais.
Do lado do corte de despesas, o destaque ficou com a queda de 98,3% nos pagamento de precatórios e decisões judiciais, que recuaram de 29,8 bilhões de reais para 500 milhões de reais entre o primeiro bimestre do ano passado e seu equivalente em 2025. A retração reflete a decisão do governo de antecipar o cronograma de pagamento dos precatórios, no ano passado, para fevereiro, o que impacta a base de comparação.
Com isso, o total de despesas primárias do governo central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social) foi de 347,5 bilhões de reais no bimestre, representando uma queda de 5,1% sobre o começo do ano passado. Do outro lado, as receitas líquidas primárias, isto é, já descontadas as transferências obrigatórias a estados e municípios, avançaram 3,5%, chegando a 401,5 bilhões.
Os economistas da IFI afirmam que, para manter a geração de superávits, o governo continuará dependente do aumento das receitas. “Para efeito do cumprimento da meta de resultado primário de 2025, será importante que a receita líquida permaneça em nível relativamente elevado, como o observado em fevereiro”, dizem. O problema, segundo a instituição, é que a freada da economia nos próximos meses deve atrapalhar a arrecadação de impostos, dificultando o trabalho de manter as contas públicas no azul.
“A desaceleração da atividade econômica esperada para o segundo semestre do ano representa um fator de risco para a arrecadação, ainda que a possibilidade de a inflação continuar elevada favoreça os recolhimentos de tributos”, observam os economistas da IFI.
Veja o relatório de acompanhamento fiscal do primeiro bimestre, divulgado pela IFI nesta quinta-feira 21: