Sexta sangrenta: Guerra comercial derruba mercados globais e dólar vai para R$ 5,80
Bolsas globais cedem com previsões de uma recessão sincronizada; moeda americana sobe mais de 3% com movimento de proteção e payroll forte

Os mercados globais enfrentam uma sexta-feira de forte aversão ao risco, com quedas generalizadas nos principais índices acionários e uma disparada do dólar. A causa da turbulência: a escalada na guerra comercial entre Estados Unidos e China, impulsionada pelo mais recente movimento de retaliação de Pequim. O governo de Xi Jinping anunciou que, a partir de 10 de abril, imporá tarifas adicionais de 34% sobre todas as mercadorias americanas, em resposta à taxação imposta pelo presidente Donald Trump.
As bolsas asiáticas fecharam no vermelho. Em Nova York, os índices futuros despencam mais de 2%, refletindo o aumento da incerteza, enquanto na Europa as bolsas operam com quedas próximas a 5%. O Ibovespa, principal índice da B3, recuava próximo de 4% no meio do dia, caindo para 126,6 mil pontos. O chamado “termômetro do medo” de Wall Street, o índice VIX, registra um salto de 23%, indicando um crescimento na volatilidade e na aversão ao risco entre investidores.
O temor que domina os mercados vai além da relação bilateral entre Washington e Pequim. Analistas alertam para o risco de uma guerra comercial em escala global, caso outros países sigam o exemplo da China e imponham sanções contra os EUA. O Fundo Monetário Internacional (FMI) classificou o atual cenário como uma “ameaça significativa” para a economia mundial, alertando que as tensões podem desacelerar o crescimento e desencadear uma recessão sincronizada. O JPMorgan revisou suas projeções e agora estima que a chance de uma recessão global nos próximos 12 meses subiu de 40% para 60%.
Enquanto o mundo se preocupa com uma recessão global desencadeada pela guerra comercial, os dados de emprego nos EUA mostram que a economia do país, apesar da alta dos juros e do protecionismo de Trump, ainda registra um mercado de trabalho resiliente. A dúvida, porém, é por quanto tempo esse mercado vai resistir diante às políticas de Trump. O payroll de março, o relatório de emprego mais aguardado, mostrou a criação de 228 mil empregos, um número muito acima da expectativa de 137 mil postos. Embora o mercado de trabalho aquecido afaste, por ora, o risco iminente de recessão, ele também reforça preocupações inflacionárias e a possibilidade de que o banco central americano, o Federal Reserve (Fed) mantenha uma política monetária rígida por mais tempo do que o previsto.
Essa combinação de fatores intensificou a valorização do dólar, que avançava 3%, e era negociado a R$ 5,80 ao meio dia, em um movimento clássico de “flight to quality” – quando investidores migram para ativos considerados mais seguros em tempos de incerteza. Na véspera, a moeda americana havia alcançado seu menor valor no ano, R$ 5,62, mas a escalada da guerra comercial reacendeu temores de um choque econômico global, enquanto os EUA – por ora – mantêm a resiliência no mercado de trabalho.
No Brasil, a pressão cambial e o risco de contágio da turbulência externa devem colocar em xeque as expectativas de cortes na taxa Selic. Nos EUA, o Fed pode enfrentar um dilema ainda maior: combater a inflação persistente ou responder à volatilidade e ao risco de recessão com medidas mais brandas.
Se há uma certeza, é que os investidores entrarão no final de semana com mais perguntas do que respostas. O pêndulo da incerteza voltou a oscilar violentamente nos mercados financeiros – e a guerra comercial de Trump pode ser apenas o começo de um período prolongado de turbulência econômica global.