Sem sobressaltos: Inflação dentro das expectativas não deve mudar rumo do Fed
O PCE recuou de 2,6% para 2,5% em 12 meses até janeiro, mas o tarifaço de Trump e o aumento da renda pessoal mantêm o alerta inflacionário

A economia americana recebeu boas notícias nesta sexta-feira, 28, com a divulgação dos dados de inflação. O Índice de Preços de Gastos com Consumo (PCE, na sigla em inglês), que é o indicador preferido do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), para medir a inflação, veio exatamente em linha com as projeções do mercado. O índice subiu 0,3% em janeiro na comparação mensal, acumulando uma taxa de 2,5% no período de 12 meses, levemente abaixo dos 2,6% registrados na leitura anterior. A desaceleração, embora modesta, é um sinal positivo para um país que há pouco tempo lutava contra picos inflacionários não vistos em décadas.
O núcleo do PCE, que exclui itens mais voláteis como energia e alimentos, subiu 0,3% em janeiro, também dentro do esperado pelos economistas. Em termos anuais, essa medida avançou 2,6%, ainda acima da meta de 2% definida pelo Fed, mas dentro de um nível que não provoca alarme. A estabilidade desses números alivia as preocupações sobre a necessidade de medidas mais drásticas de aperto monetário por parte do banco central americano, pelo menos por enquanto.
Embora o dado tenha vindo dentro das expectativas, sem grandes surpresas, o Fed permanece cauteloso, especialmente diante das políticas protecionistas do presidente Donald Trump. Ontem, Trump anunciou novas tarifas sobre produtos importados da União Europeia e aumentou em 10% as tarifas sobre mercadorias vindas da China. A partir de 4 de março, essas tarifas também passarão a ser aplicadas a produtos do Canadá e do México. Embora os efeitos desse “tarifaço” ainda não estejam refletidos nos dados de inflação divulgados hoje, é provável que eles venham a pressionar os preços nos próximos meses, tornando o cenário inflacionário mais complexo.
Assim, apesar da inflação ter se comportado de maneira estável no último mês, os números não dão margem para que o Fed afrouxe sua política monetária com cortes de juros. O banco central deve adotar uma abordagem de espera, observando como a economia responderá ao aumento das tarifas antes de tomar qualquer decisão.
Outro fator que chama atenção é o comportamento da renda dos americanos, que continua em alta, potencialmente pressionando a inflação caso isso se converta em um aumento do consumo. Curiosamente, a inflação se manteve controlada recentemente porque, apesar do crescimento da renda, houve uma queda no consumo. Em janeiro, a renda pessoal aumentou US$ 221,9 bilhões, um crescimento de 0,9% no mês. A renda disponível — o montante que sobra após o pagamento de impostos — também subiu 0,9%, o que indica uma maior capacidade de gasto por parte dos consumidores. No entanto, o consumo pessoal, que inclui tanto bens quanto serviços, recuou ligeiramente, com uma queda de 0,2%. Esse comportamento sugere que, mesmo com mais dinheiro no bolso, os americanos estão sendo cautelosos com seus gastos, possivelmente devido às incertezas econômicas que se avizinham.