Selic deveria estar em 11% para levar inflação à meta, diz Itaú
Relatório do banco destaca deterioração do câmbio e resiliência da atividade econômica como fatores de atenção para a próxima reunião do Copom
O Itaú Unibanco avalia que, para levar a inflação à meta, seria necessário que a Selic estivesse no patamar de pelo menos 11% ao ano. Em relatório divulgado nesta segunda-feira, 29, a equipe econômica do banco afirma que o cenário brasileiro se tornou mais complexo desde a reunião anterior do Copom, e que a política monetária se encontra em um ponto de inflexão. Ainda assim, a instituição projeta a manutenção dos juros no patamar de 10,50% no encontro desta semana.
O documento destacou a alta do dólar como fator complicador da conjuntura. A taxa de câmbio avançou de R$ 5,30 na reunião anterior para cerca de R$ 5,55 agora – o cálculo é uma média dos 10 dias úteis encerrados nesta segunda, mesmo valor utilizado pelo BC para rodar seu modelo econômico. Na reunião de maio, a taxa era de R$ 5,15.
Outro ponto de atenção é a atividade econômica, com dados divulgados desde a última decisão desenhando um quadro de resiliência e de aquecimento do mercado de trabalho. Em especial, a alta dos salários pode indicar um aumento da
inflação de serviços à frente. “Após uma sequência de divulgações benignas, o IPCA-15 de julho trouxe uma surpresa para cima relevante e preocupante neste componente, marcando, ao nosso ver, uma inflexão na direção de alta do indicador de serviços subjacentes”, diz o relatório, assinado pela equipe de pesquisa macroeconômica, liderada pelo economista-chefe Mário Mesquita.
A percepção de risco local também se manteve elevada, com incertezas em relação aos rumos das contas públicas. Com a contenção de gastos de R$ 15 bilhões para 2024, anunciada por Haddad na últimas semanas, o foco do mercado passa a ser em 31 de agosto, data limite para envio do projeto de orçamento para 2025.
O relatório também pontua que, desde a última reunião do Copom, a expectativa de inflação para 2025 aumentou 0,16 ponto percentual, para 3,96%, segundo a o Boletim Focus divulgado semanalmente pelo BC.
Como fator de alívio, o Itaú destaca o cenário internacional, com dados de inflação e atividade econômica nos EUA que aumentaram a perspectiva de que o Fed irá iniciar seu ciclo de afrouxamento monetário em breve. A equipe do banco espera um primeiro corte de juros em setembro, seguidos de outros quatro ao longo do ano.
Para a próxima reunião do Copom, que começa amanhã e se encerra na quarta-feira, o Itaú prevê que o comunicado do comitê renovará a promessa de vigilância. O grupo deve dizer que avaliará se a estratégia de manutenção dos juros no patamar atual será capaz de garantir o processo de desinflação e reancoragem das expectativas, e que o comitê não hesitará em retomar o ciclo de alta se necessário.