Rombo maior nas contas públicas é mais realista, dizem analistas
O país não consegue fechar as contas no azul desde 2013, quando teve superávit de 75,2 bilhões de reais
O governo revisou ontem as metas de déficit primário de 2017 e 2018 para 159 bilhões de reais. A projeção anterior era de um rombo nas contas públicas de 139 bilhões de reais e 129 bilhões de reais, respectivamente. Analistas consultados por VEJA veem agora as contas do governo com mais confiança. O entendimento é que a nova estimativa é mais realista pois se ampara em fontes de arrecadação mais sólidas, sinais de recuperação da economia e limitação do avanço dos gastos públicos.
Mesmo antes de o governo admitir a necessidade de revisar a meta, analistas já viam dificuldades para fechar a conta. Entre os empecilhos estava o fato de a previsão levar em conta uma estimativa de crescimento da economia muito otimista e a entrada de receitas extraordinárias.
Para o analista da consultoria Tendências Fabio Klein, a arrecadação deve melhorar no ano que vem porque a perspectiva de crescimento é mais positiva. Além de indícios de melhora na atividade, há agora recuperação de setores que são mais tributados que o agronegócio exportador, que foi o motor do crescimento no começo do ano. “Estamos prevendo alta do PIB de 2,8%. E na medida em que há recuperação na indústria e nos serviços, a arrecadação deve aumentar”, explica. Em relação a este ano, não havia muito o que fazer a não ser reconhecer o problema nas contas.
Além da previsão de receita mais sólida, a previsão anterior contava com o impulso de eventos extras, como a segunda fase da repatriação de recursos. A primeira fase, de 2016, rendeu 46,8 bilhões de reais em impostos e multas. Já a segunda, neste ano, estimada inicialmente em cerca de 13 bilhões de reais, rendeu apenas 1,7 bilhão de reais. “A previsão para o próximo ano tem menos itens não-recorrentes, como repatriação ou concessões”, diz o estrategista-chefe da XP, Celson Plácido.
Além do voto de confiança de analistas em uma meta mais realista, duas das principais agências de classificação de risco – Standard & Poor’s e Moody’s – anunciaram que manteriam a classificação de risco após o anúncio do rombo maior. A bolsa de valores também fechou em alta, de 0,35%, aos 68.594.
O país não consegue fechar as contas no azul desde 2013, quando teve superávit de 75,2 bilhões de reais. Desde então, a diferença vem aumentando, até chegar ao recorde de 154 bilhões de reais registrado no ano passado. Tanto as instituições quanto os economistas chamam a atenção para mais reformas, em especial a da Previdência, projetada para conter avanço nos gastos públicos. “Reduzir salário no funcionalismo, adiar reajuste, tudo isso é paliativo”, analisa Plácido.