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Rinha de frango

Sob o bastão de Jorge Paulo Lemann, chega ao Brasil a rede de fast-food Popeyes, que promete brigar com o KFC no mercado de lanches de galinha frita

Por Flávio Ismerim
Atualizado em 4 jun 2024, 16h31 - Publicado em 2 nov 2018, 07h00

A briga promete ser boa. De um lado o KFC, líder mundial no ramo dos fast-foods de frango e com uma rede de 47 lojas no Brasil. Do outro, a segunda maior cadeia do planeta no segmento, que acaba de inaugurar sua primeira loja em território nacional: a Popeyes. O prêmio? A conquista de um mercado ainda pouco explorado de lanchonetes mais baratas do que as focadas em hambúrgueres bovinos, num país onde a carne branca é a preferida da população. E a Popeyes chega com o respaldo de quem conhece o gosto do brasileiro como poucos: a marca foi comprada em fevereiro do ano passado pela Restaurant Brands Internacional (RBI), comandada pelo 3G Capital, de Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles — os controladores da cervejaria Ambev e também do Burger King.

Bem no estilo voraz do trio, a Popeyes entra no mercado brasileiro com gana. O que começou com duas lojas na Grande São Paulo na semana passada promete se transformar em mais de 300 pontos de venda em dez anos, em um investimento de 1 bilhão de reais. Para alcançar um objetivo tão ambicioso, o grupo pretende lançar mão da mesma agressividade e expertise que usou para elevar de 100 para 700 o número de restaurantes Burger King nos últimos sete anos. “A gente viu que existia um mercado de consumo de frango muito grande, mas sem uma oferta de fast­-food que suprisse essa demanda”, explica Iuri Miranda, presidente da Popeyes no Brasil.

Mas o KFC não pretende dar canja ao rival. Desde junho sob o comando de Carlos Wizard, fundador da rede de escolas de idiomas que leva seu sobrenome e hoje controlador das franquias da Pizza Hut e do Taco Bell, a empresa promete investir 1,2 bilhão de reais na próxima década para atingir a marca de 500 restaurantes. A ideia de Wizard é abandonar a estratégia fracassada de apostar somente em praças de alimentação de shopping centers e atacar em todas as frentes: grandes lojas de rua, parceria com aplicativos de delivery nos smartphones, e até drive­-thrus. Outra mudança será a expansão para cidades menores, uma vez que o grosso da presença da rede no país hoje está em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Chegamos antes da Popeyes aqui e vamos promover uma expansão ainda mais agressiva do que eles estão planejando”, promete Ildefonso de Castro Deus, gerente-geral da KFC Brasil.

Iuri Miranda
O DESAFIANTE –  Primeira loja: Iuri Miranda, presidente da Popeyes no Brasil, prova uma coxa frita no novo restaurante (Claudio Gatti/.)

As duas redes surgiram no sul dos Estados Unidos, mas em estados diferentes e, até certo ponto, rivais. O KFC vem do Kentucky e traz de lá um tempero bem americano, de origem inglesa, na marinação e empanação do frango. A Popeyes é da Louisiana, do chamado Sul Profundo americano. Por ter sido um território francês (daí o nome francófono) e uma zona rural de trabalho escravo africano intensivo, a Louisiana é conhecida por uma culinária com influências as mais diversas, notadamente a crioula e a cajun. Para conquistar o estômago do brasileiro, ambas fizeram concessões e adotaram o feijão com arroz no cardápio.

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A Popeyes foi mais longe. Passou dois anos fazendo pesquisa de mercado no Brasil, e usou a expertise adquirida em outros países para criar refeições mais palatáveis ao gosto daqui. Além da receita tradicional de frango, que, por ser apimentada, é chamada de Vibrante, a rede oferece uma versão mais suave. “O brasileiro tem muito apetite para conhecer sabores novos, e as duas redes estão corretas em acreditar que no mercado de baixa renda há espaço para o crescimento dos fast-foods de frango”, diz a consultora de restaurantes Cristina Souza, diretora executiva da GS&Libbra.

As estratégias para a expansão no Brasil também são diferentes. A expertise de Wizard está na administração de franquias, que fizeram o sucesso de sua escola de idiomas, entre outras marcas no ramo da educação, e do Mundo Verde, a maior rede varejista de produtos saudáveis da América Latina. Já a RBI prefere operar as próprias lojas, e até aproveitar a cadeia de fornecedores e a estrutura operacional do Burger King para manter a padronização e os custos baixos. Os dois modelos se mostraram bem-sucedidos no passado, e os executivos têm vasto conhecimento sobre o setor para ampliar sua atuação no mercado brasileiro. Nada impede que as duas consigam se dar bem no Brasil. Nessa rinha de frangos (fritos), quem ganha é o consumidor.

Publicado em VEJA de 7 de novembro de 2018, edição nº 2607

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