Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Reforma tributária aproxima mercado do governo, mas entraves persistem

Para a Faria Lima, Haddad realiza bom trabalho na Fazenda. O risco PT, no entanto, permanece à espreita, podendo aparecer a qualquer momento

Por Felipe Erlich, Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 10h12 - Publicado em 16 jul 2023, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A canção Blackbird, clássico dos Beatles gravado em 1968, é um hino contra a segregação racial. Um de seus versos inspirou gerações: “Você somente aguardou o momento de alçar voo”. Fã declarado da música, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, arriscou dedilhar algumas notas em entrevista concedida na segunda-feira, 10. A despeito das modestas qualidades artísticas de Haddad, a letra não poderia ser mais apropriada para descrever a fase vivida pelo ministro. Depois de ser recebido com enorme desconfiança pelo mercado financeiro no início do governo Lula, seu nome agora é visto como um antídoto contra possíveis práticas heterodoxas do PT na economia. Pelo menos três fatores foram essenciais para a virada de percepção. A criação do arcabouço fiscal, que coloca freios nos gastos públicos, e a manutenção da meta de inflação em 3% reduziram boa parte dos ruídos com a Faria Lima. Mais recentemente, a aprovação da reforma tributária na Câmara representou uma nova mudança de tom.

    O mercado financeiro pode ter vários defeitos, mas uma de suas virtudes certamente é o pragmatismo. Na falta de um genuíno representante da agenda liberal no governo, gestores e analistas de investimentos agarraram-se àquele que mais parece comprometido com a administração responsável da economia. Até aqui, de fato, Haddad ocupa esse espaço. “Eu diria que ele surpreende positivamente”, afirma Zeina Latif, ex-secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo e sócia-diretora da Gibraltar Consulting. “O mercado tinha uma leitura muito equivocada sobre o que o Haddad faria”, acrescenta o economista André Perfeito. “Ele fez um jogo seguro e convidou nomes equilibrados para dar vazão à reforma tributária.”

    RUÍDO - O ministro e seu violão: papel central como articulador
    RUÍDO – O ministro e seu violão: papel central como articulador (Washington Costa/MF/.)

    Um levantamento realizado pela consultoria Quaest em parceria com a Genial Investimentos confirma a melhora da reputação do petista perante o mercado financeiro. Em março, apenas 10% dos agentes do setor aprovavam o trabalho de Haddad na economia. Em maio, o índice subiu para 26%. Na semana passada, pouco após a reforma tributária passar na Câmara, o índice saltou para 65%. Ainda assim, a pesquisa traz alguns alertas. Para 66% dos entrevistados, o governo não está preocupado com o controle da inflação, enquanto 71% temem a futura indicação de Lula para a presidência do Banco Central. A conclusão parece óbvia: Haddad realiza bom trabalho na Fazenda, mas o risco PT permanece à espreita, podendo aparecer a qualquer momento.

    O desenlace da reforma tributária é, sem dúvida, uma conquista que pode ser atribuída em boa medida a Fernando Haddad. O ministro foi um dos responsáveis pela articulação do governo no Congresso Nacional, tendo constituído produtiva parceria com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para viabilizar a votação célere de um tema que está em pauta há pelo menos três décadas. Por razões diversas — desinteresse dos governos, falta de apoio da sociedade, conflitos setoriais, entre muitas outras —, ela sempre ficou para depois, e sua postergação representou durante muito tempo uma barreira que parecia intransponível. Agora, Haddad afirma ter certeza que o projeto passará sem sustos pelo Senado.

    Continua após a publicidade

    Ainda que o conteúdo da reforma não seja perfeito, ela tem o mérito inquestionável de trazer maior simplicidade na cobrança dos tributos, o que por si só representa um monumental avanço a um país de regras intrincadas como o Brasil. Entre outros feitos, as novas regras deverão reduzir a quantidade de leis tributárias, unificar alíquotas e assegurar benefícios para setores estratégicos, como educação, saúde e transportes. Cinco tributos serão extintos — IPI (federal), PIS (federal), Cofins (federal), ICMS (estadual) e ISS (municipal) — para dar lugar a um modelo de tributação unificado. Outro aspecto modernizador é a devolução, para pessoas físicas, de parte dos tributos pagos, num modelo conhecido como cashback, mas o tema deverá ser definido apenas por lei complementar.

    NO SUPERMERCADO - Fila da carne: inflação baixa diminuiu o preço de alguns alimentos
    NO SUPERMERCADO - Fila da carne: inflação baixa diminuiu o preço de alguns alimentos (Sebastião Moreira/EFE)

    O Brasil demorou muito para reconfigurar suas ultrapassadas normas tributárias. Em 2022, a carga bruta de impostos respondeu por intoleráveis 33,71% do PIB (levando-se em consideração os serviços públicos do país). Trata-se da maior participação da série histórica iniciada em 2010, segundo dados apurados pelo Tesouro Nacional. Ou seja, a voracidade dos impostos só vem aumentando. Sob diversos aspectos, é um peso que a sociedade não consegue suportar. As ineficiências do atual sistema tributário sufocam empresas, penalizam indivíduos e comprometem o próprio crescimento econômico, reduzindo as chances de o Brasil se tornar mais competitivo na acirrada arena internacional.

    Continua após a publicidade

    Após a tramitação no Senado, a reforma tributária ainda levará um bom tempo para ser efetivamente adotada. O texto prevê um período de transição de pelo menos oito anos para que empresas, governos e contribuintes em geral se ajustem às novas regras. Apesar da longa espera, é uma conquista que transcende governos e, obviamente, beneficia todo o conjunto da sociedade. A bela letra de Black­bird expressa com perfeição o que a reforma reserva para o Brasil: é hora de alçar voo.

    Publicado em VEJA de 19 de julho de 2023, edição nº 2850

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.