Reestruturação de dívidas da Americanas entra nos últimos detalhes
Homologação de aumento de capital está previsto para esta semana; Lemann, Telles e Sicupira devem aportar R$ 12 bilhões na varejista
A Americanas (AMER3) acerta os últimos detalhes da reestruturação de cerca de 50 bilhões de reais em dívidas reconhecidas no pedido de recuperação judicial apresentado em janeiro de 2023, na esteira do escândalo das fraudes contábeis descoberto na ocasião. Segundo o jornal Valor Econômico, até quinta-feira, 25, deve ser homologado o aumento de capital em que os acionistas de referência – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira – injetarão 12 bilhões de reais na empresa. Outros 12 bilhões de reais de dívidas da Americanas junto a bancos serão convertidos em ações.
O dinheiro que chega será utilizado na quitação de uma série de obrigações, como o pagamento de 2 bilhões a credores que participaram de um leilão reverso em abril, no qual aceitaram descontos de até 70% para reaver aquilo a que tinham direito. Outros 6,7 bilhões irão para o pagamento de dívidas remanescentes, também com deságio.
A reestruturação da varejista envolve, ainda, a emissão de quase 2 bilhões de reais em debêntures, com séries emitidas em reais e em dólares. De acordo com o Valor Econômico, os títulos de dívida terão prazo de vencimento de cinco anos, com 24 meses de carência, e servirão para trocar dívidas antigas.
A crise da Americanas começou em 11 de janeiro do ano passado, quando a empresa publicou um fato relevante informando que encontrara “inconsistências contábeis” de, pelo menos, 20 bilhões de reais, relacionados a lançamentos indevidos de valores que inflavam os resultados.
O comunicado foi assinado pelos então presidente, Sergio Rial, e diretor financeiro, André Covre, que haviam assumido seus postos nove dias antes. A dupla renunciou aos postos, enquanto as ações da varejista derretiam na Bolsa e os grandes credores, como os bancos, corriam para exigir o pagamento antecipado do que lhes era devido. Sem dinheiro suficiente em caixa, a Americanas pediu recuperação judicial no dia 19 daquele mês.
A repercussão negativa do caso gerou uma comissão parlamentar de inquérito na Câmara dos Deputados, e à abertura de investigações pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. A apuração ganhou força, quanto dois ex-funcionários da Americanas fecharam acordos de delação premiada e passaram a detalhar o esquema de fraudes, que seria liderado por Miguel Gutierrez, que comandou a empresa por vinte anos, antes de ser substituído por Rial, e envolvia cinco níveis hierárquicos, passando pela diretoria executiva e alcançando funcionários de nível operacional.
As fraudes são estimadas, atualmente, em 25 bilhões e eram compostas por diversos mecanismos, como o lançamento de receitas inexistentes, a ocultação de dívidas bancárias, a falsificação de documentos e a cooptação de funcionários de bancos.