Queda na demanda leva a tombo histórico na produção industrial em abril
Redução de 18,8% é o pior resultado mensal desde 2002, quando o IBGE passou a pesquisar o desempenho do setor e reflete a pandemia de coronavírus
Se nos dados dos três primeiros meses do ano havia apenas um reflexo dos impactos da pandemia causada pelo novo coronavírus no Brasil, os resultados de abril trazem o retrato do período de escalada de casos e medidas de distanciamento social na economia brasileira. Nesta quarta-feira, 2, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a queda na produção industrial em abril foi de 18,8% em abril, na comparação com o mês anterior. É a queda mais intensa da indústria desde o início da série histórica, em 2002, e o segundo resultado negativo seguido, com perda acumulada de 26,1% no período. O desempenho negativo é resultado da queda da demanda de consumo, já que comércios não essenciais fecharam as portas em grande parte do país no mês para tentar combater a proliferação da Covid-19.
No ano, de janeiro a abril, o setor encolheu 8,2%, e nos últimos 12 meses, recuou 2,9%. Em relação a abril do ano passado, a queda na indústria foi maior, -27,2%, sexto resultado negativo seguido nessa comparação e o mais elevado desde o início da série registrada pelo Instituto. “O resultado de abril decorre, claramente, do número maior de paralisações das várias unidades produtivas, em diversos segmentos industriais, por conta da pandemia. Março já tinha apresentado resultado negativo. Agora, em abril, vemos um espalhamento, com quedas de magnitudes históricas, de dois dígitos, em todas as categorias econômicas e em 22 das 26 atividades pesquisadas”, disse o gerente da pesquisa, André Macedo.
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Clique e AssineO recuo na indústria preocupa porque a cadeia é uma das grandes empregadoras do país. A queda da atividade gera preocupação no desmonte de cadeias produtivas, o que tornaria mais difícil a retomada econômica no período pós-pandemia. Esse é o primeiro resultado setorial de abril divulgado pelo IBGE. Ainda no meio do mês, serão divulgados o desempenho do comércio e dos serviços, que também devem registrar grandes quedas. O cenário é que o PIB do segundo trimestre traga recuo histórico e puxe o resultado anual para uma queda na casa dos 7%. O desempenho de 2020, somado a crise de 2015 e 2016, faz com que essa seja a década mais perdida de economia brasileira.
Entre as atividades, o pior recuo veio de veículos automotores, reboques e carrocerias (-88,5%), que foi pressionada pelas interrupções da produção dos automóveis, caminhões e autopeças em várias fábricas do país, que concederam férias coletivas a seus colaboradores. Com isso, a atividade intensificou o recuo observado no mês anterior (-28%) e registrou a queda mais intensa desde o início da série. A interrupção da produção de veículos automotores impacta outros segmentos industriais, já que a cadeia automotiva demanda trabalho de outras atividades. Com isso, também recuaram a metalurgia (-28,8%), produtos de borracha e de material plástico (-25,8%) e máquinas e equipamentos (-30,8%). Outros recuos relevantes vieram das atividades de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-18,4%) e bebidas (-37,6%).
Macedo destaca ainda que o recuo em todas as grandes categorias econômicas marcou o menor resultado das suas séries históricas. Bens de consumo duráveis teve a queda mais acentuada de abril (-79,6%), influenciada, em grande parte, pela menor fabricação de automóveis. Foi o terceiro mês seguido de queda na produção, com perda acumulada de 84,4% nesse período.
O segmento de bens de capital (-41,5%) também teve redução mais elevada do que a média nacional (-18,8%). Os setores produtores de bens intermediários (-14,8%) e de bens de consumo semi e não duráveis (-12,4%) também caíram, com o primeiro intensificando a queda de março (-3,7%), e o segundo mantendo o resultado negativo que vem desde novembro do ano passado, acumulando nesse período perda de 25,2%.
Indústria essencial cresce
A pesquisa da indústria mostra que as atividades que produzem itens de consumo essenciais avançaram em abril. É caso de produtos alimentícios (3,3%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (6,6%), que voltaram a crescer após recuarem em março (-1% e -11%). Perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal também subiram (1,3%), enquanto o setor extrativo ficou estável (0%). “Embora o impacto positivo dos alimentos tenha vindo, principalmente, da maior produção do açúcar, observamos aumentos também na produção de outros gêneros alimentícios necessários para as famílias, como leite em pó, massas, carnes e arroz”, comentou o gerente da pesquisa.