‘Principal risco’: o alerta do relatório do Banco Inter sobre a dívida pública
Instituição estima que dívida pública deve subir para 79% do PIB em 2025. Relatório indica que propostas como a isenção de IR comprometem as contas públicas

Em relatório extraordinário divulgado nesta sexta-feira, 14, o banco Inter revisou o cenário de alta para a Selic para 14,75% ao ano, mas também previu um cenário alternativo, caso a economia desacelera mais rápido do que o esperado, em que o ciclo de alta dos juros leve a taxa a no máximo 14,25% ao ano e seja pausado a partir de junho.
Assinado pela economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, o relatório alerta sobre o risco fiscal no Brasil, especialmente neste ano e no próximo “A aceleração na dívida pública e o desafio de cumprir o arcabouço fiscal permanecem como principal risco no cenário em 2025 e 2026”, diz o relatório. O banco projeta uma nova aceleração do endividamento do governo, Depois de chegar a 76% do PIB, com custo médio de 11%, estimamos nova aceleração da dívida pública para 79% em 2025.
O texto cita que o Orçamento deve ser aprovado apenas em março, e mesmo considerando uma revisão do crescimento de despesas, após a aprovação das medidas de ajuste em dezembro, o banco estima déficit de 80 bilhões de reais no ano, ou 0,6% do PIB, próximo do cumprimento do limite da meta (que exclui40 bilhões de reais de pagamento de precatórios).
O banco estima que dívida pública deve subir para 79% do PIB em 2025. Possíveis gastos fora do arcabouço e propostas como a isenção de Imposto de Renda para rendimentos até R$5 mil podem comprometer as contas públicas.” O risco fiscal deve permanecer no radar com potenciais propostas de gastos fora do arcabouço e outros parafiscais, como o recente exemplo dos 6 bilhões de reais do programa pé de meia. Além disso, para 2026, a discussão da reforma do imposto de renda e isenção de Imposto de Renda para rendimentos até 5 mil reais o que pode injetar R$50 bilhões de renda pode novamente deteriorar o resultado fiscal em ano de eleição.”
Sobre a política monetária restritiva, o banco prevê pausa em junho.”Esperamos que o Copom efetive a alta de 1 ponto percentual na próxima reunião em março, conforme antecipado pelo último comunicado, e faça um ajuste final de 0,50 p.p. em maio. Os sinais de desaceleração da atividade e a acomodação do cambio em R$5,80 são os principais fatores para uma pausa no ciclo a partir de junho”, diz o relatório.
O relatório prevê o fim do ciclo de aperto monetário para maio deste ano. O banco projeta o IPCA em 5,2%, ante 4,9% da última projeção e 4,2% em 2026, ante 3,9% da projeção anterior. “A deterioração da inflação de serviços e a alta do cambio devem manter o IPCA acima de 5% ao longo de 2025 com uma inércia maior para 2026, apesar do cenário mais restritivo da política monetária.”
Risco de desaceleração mais rápida
Com o aperto monetário, o banco estima uma desaceleração da economia de 3,4% para 1,5% em 2025. A análise do Inter, no entanto, é de que no cenário atual, há também possibilidade de a economia desacelerar mais rapidamente do que o esperado. Se isso acontecer, o Banco Central pode decidir pausar o aumento da taxa de juros já em maio, deixando a taxa final em 14,25% (um pouco abaixo do previsto inicialmente, que é 14,75%.
O relatório também destaca o efeito do menor impulso fiscal na economia. “Nesse cenário alternativo, a execução do orçamento público considera os cortes de gastos anunciados e resultaria em um menor impulso fiscal, elevando a potência da política monetária considerando o choque de juros já implementado – alta de 3,75 p.p. na Selic e um juro real estimado de quase 10% para os próximos 12 meses, com impacto mais significativo na oferta de crédito.”