Prévia da inflação recua, mas piora dos núcleos acende alerta
IPCA-15 de fevereiro avançou 0,78%, abaixo da expectativa de 0,82%; pressão nos núcleos, no entanto, não deve alterar ritmo de cortes da Selic

O índice IPCA-15 de fevereiro, considerado a prévia da inflação, trouxe um alívio para os analistas, registrando uma inflação de 0,78%, abaixo da mediana das projeções que apontavam para 0,82%. No acumulado em 12 meses, a inflação avançou ligeiramente de 4,47% para 4,49%, mantendo-se abaixo do teto da meta estabelecida. No entanto, a leitura qualitativa não foi favorável, com sinais preocupantes, especialmente em relação à piora dos núcleos, principalmente os de serviços subjacentes.
Os preços de alimentação e bebidas, que têm um peso significativo no orçamento das famílias, exerceram pressão sobre a inflação, juntamente com os aumentos nos custos de serviços. Embora esses fatores tenham contribuído para uma perspectiva menos otimista, ainda não são suficientes para mudar a trajetória de cortes de juros pelo Banco Central.
Dos nove grupos de pesquisa, oito registraram alta, com destaque para Educação e Alimentação e Bebidas, que representaram os maiores impactos sobre o resultado do IPCA-15 de fevereiro. No entanto, a aceleração da inflação não é motivo de grande preocupação, já que a alta em educação se explica por fatores sazonais. A pressão em serviços, apesar da desaceleração marginal dos serviços subjacentes, justifica uma postura mais cautelosa do Copom, mas não deve alterar o ritmo de cortes da taxa Selic. “A piora dos núcleos, principalmente dos serviços subjacentes, foi uma decepção. Esse cenário acende um sinal amarelo para a política monetária, mas não altera o ritmo de cortes de 50 pontos-base do Copom”, avalia Igor Cadilhac, economista do PicPay.
Por outro lado, alguns grupos apresentaram queda nos preços, como Vestuário e Passagens Aéreas, esta última destacando-se por seu impacto significativo na dinâmica inflacionária geral. leitura do IPCA-15 de fevereiro veio abaixo do esperado, especialmente em passagem aérea e gasolina. O qualitativo dessa divulgação também foi melhor do que o esperado com surpresa baixista em industriais subjacentes (vestuário) e serviços subjacentes próximos do esperado. Na margem, a média dos núcleos acelerou para 3,9% (de 3,0%). Para 2024, projetamos IPCA de 3,6%.
Segundo Cadilhac, olhando para o futuro, as projeções apontam para duas perspectivas divergentes: um alerta devido às surpresas altistas nos serviços e um alívio pela descompressão de certos itens mais voláteis. “Essa discordância implica em uma maior preocupação com a dinâmica do IPCA de prazos maiores”, diz.
Para Volnei Eyng, economista e presidente da Multiplike, o Banco Central ainda deve ter uma situação bastante conservadora. “Dá um certo alívio, vir um pouco abaixo, mas a análise qualitativa é um pouco maligna. Precisa ter bastante atenção em relação a isso, até porque o mercado vem acompanhando algumas melhoras no PIB e isso sempre acaba trazendo um pouco de inflação junto”, afirma.