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Prejuízo não freia Magazine Luiza, que mira novas aquisições para crescer

Vendas da companhia superaram os resultados obtidos pela Via Varejo; saída da Ricardo Eletro e varejistas menores podem abrir mais espaço para consolidação

Por Felipe Mendes Atualizado em 4 jun 2024, 15h39 - Publicado em 18 ago 2020, 18h23

A pandemia de coronavírus foi uma catástrofe para a maior parte das varejistas. Com lojas fechadas em decorrência das medidas de isolamento para se evitar a disseminação do vírus pelo país, poucos conseguiram passar ilesos – ou, pelo menos, perto disso. O Magazine Luiza foi um desses raros vitoriosos. O conglomerado, dono de marcas como Netshoes, Zattini, Época Cosméticos e Estante Virtual, apresentou prejuízo ajustado de 62,2 milhões de reais no segundo trimestre deste ano, revertendo o lucro de 85,2 milhões de reais obtido no mesmo período de 2019. O que chamou a atenção, no entanto, foram as vendas totais de abril a junho, que somaram 8,6 bilhões de reais, um avanço de 49% na mesma base comparativa. O grande causador disso foi o e-commerce da empresa, que avançou 181,9% no período – de portas fechadas em boa parte desses meses, as vendas nas lojas físicas caíram 45,1%.

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Em teleconferência com analistas nesta terça-feira, 18, Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza, destacou que, apesar da evolução da presença no e-commerce, ainda há margem para crescer. A recorrência de compra do mercado brasileiro ainda é considerada baixa, muito distante em relação a players consolidados no cenário global como a americana Amazon e o chinês Alibaba. “A frequência de compra aumentou um pouco na pandemia, mas ainda está longe do que nós precisamos. O nosso desafio é desenvolver as categorias daqui para frente. Itens de supermercado já se tornaram a categoria de maior recorrência dentro do nosso site”, afirmou. “O aumento da recorrência ainda está longe do que precisamos. Os clientes do Alibaba compram, em média, 90 vezes ao ano. Os da Amazon, mais de 50 vezes. No Brasil, a taxa de recorrência de todo o mercado ainda está abaixo de 10, inclusive a nossa”, revela.

Durante a pandemia, pequenos e médios varejistas têm encontrado dificuldades para acessar linhas de crédito. Mas não só elas. A crise foi primordial para o fechamento de mais de 300 lojas da rival no ramo de eletrodomésticos Ricardo Eletro. Comandada pela Máquina de Vendas, a tradicional rede sucumbiu nos últimos meses e entrou com um pedido de recuperação judicial com dívidas avaliadas em 4,01 bilhões de reais. Para Trajano, o fenômeno é comum em tempos de crise e pode forçar uma consolidação no comércio varejista, sendo benéfico para as companhias que já criaram uma robustez no e-commerce. “Toda crise tem uma seleção natural. Empresas mais fracas, menos capitalizadas, acabam sentindo mais. Um dos grandes players na área de eletrônicos, a Ricardo Eletro, entrou em recuperação judicial. Outros players menores fecharam suas lojas. Tem outros que vão sair com sequelas. Isso acaba sendo uma oportunidade para quem está com uma operação redonda, capitalizada, ganhar marketshare.”

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Trajano indicou ainda que o ciclo de aquisições do Magazine Luiza não terminou. Recentemente, o grupo varejista anunciou a aquisição da Inloco Media e do portal de notícias Canaltech, que tem 24 milhões de visitantes únicos e é voltado ao público geek. Com a transação, a companhia entrou de vez no universo de publicidade digital, um mercado ainda pouco explorado pelo setor privado no Brasil, mas que tem ganhado tração mundo afora. No último ano, o Magazine Luiza desembolsou 115 milhões de dólares para adquirir a Netshoes. Em janeiro, a empresa pagou 31 milhões de reais para adquirir a Estante Virtual, um marketplace de livros novos e usados que estava sob domínio da Livraria Cultura.  

Para expansão, a empresa se espelha nos caminhos traçados pela gigante Amazon. “Quando você é um ecossistema, a amplitude das empresas que você pode comprar é muito grande. A Amazon comprou uma empresa de robô, comprou a Deapers, o Whole Foods, que é físico. Deve ter feito mais de 50 aquisições. O Alibaba também”, diz. Atento a possibilidades do mercado, Trajano diz que novas compras podem ocorrer num futuro próximo, desde que façam sentido ao ecossistema da companhia. “Não é qualquer peça que se encaixa em um quebra-cabeça. Se vermos que [alguma determinada empresa] se encaixa no nosso quebra-cabeça, vamos trazer ela para dentro. Podemos comprar todo tipo de empresa. Não se surpreendam”, disse Trajano.

Os resultados do segundo trimestre colocaram as vendas brutas do Magazine Luiza à frente de sua principal concorrente, a Via Varejo, dona de marcas tradicionais como Casas Bahia e Ponto Frio e Extra.com. Isso também tem a ver com o aumento de oferta. O site do Magazine Luiza viu sua Unidade de Manutenção de Estoque (SKU, na sigla em inglês) e o número de vendedores cadastrados em seu marketplace dispararem 115% e 300%, respectivamente. Trajano admite, no entanto, que a competição no e-commerce ainda é desleal — algo que a reforma tributária deve atacar, em sua opinião. “Uma medida que está sendo discutida no Congresso é de se exigir que os marketplaces obriguem seus sellers a recolherem impostos. (…) Não podemos aceitar sonegação digital. Num cenário de reforma tributária, varejo não deveria aceitar quem não emite nota”, afirma Trajano.

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Outra comparação positiva para o grupo varejista é no mercado de artigos esportivos. Com o primeiro lucro de sua história, alcançado no fim do segundo trimestre, a Netshoes se tornou a maior empresa do ramo no país. Há de se destacar, no entanto, que sua principal concorrente, a Centauro, teve suas lojas fechadas em razão da pandemia, abrindo espaço para que o maior player no e-commerce de artigos esportivos, a Netshoes, nadasse de braçada. O Magazine Luiza estuda para o futuro a abertura de lojas físicas da marca, mas essa realidade ainda parece um pouco distante em virtude da Covid-19.

Durante a teleconferência desta terça-feira, a companhia informou que 95% de sua operação de lojas físicas está funcionando normalmente e que tem avançado a transformação do ponto de venda em centros de distribuição para compras via internet: 700 das 1,1 mil lojas já se transformaram em locais de estocagem para produtos comprados no ambiente virtual. Nem tudo são flores, entretanto. Analistas de mercado avaliam que os papéis da companhia, hoje avaliados em 89,50 reais, estão sobrevalorizados e que há pouca margem para crescimento nos próximos meses. Embora os resultados do segundo trimestre tenham sido expressivos, XP Investimentos e BB Investimentos colocaram a recomendação para compra da ação da varejista em “neutra”, com preço-alvo próximo a 78 reais ao fim deste ano. Um dos fatores de risco é o iminente término do ‘coronavoucher’, o programa de auxílio emergencial do governo federal avaliado entre 600 e 1.200 reais. Boa parte deste auxílio tem servido de fôlego para o consumo nos últimos meses.

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