Powell vê ‘cenário desafiador’ no Fed com tarifas de Trump
Para presidente do Fed, efeito das tarifas pode ser prolongado dependendo da magnitude e do momento da implementação

O presidente do Fed, Jerome Powell, admitiu que as tarifas anunciadas por Trump podem bagunçar o jogo da política monetária. A inflação pode subir – ainda que de forma temporária –, e isso deve deixar o banco central em uma posição delicada: como manter o equilíbrio entre preços sob controle e pleno emprego?
A missão é chamada de “duplo mandato” do Fed, regra que obriga o banco a mirar dois alvos ao mesmo tempo: inflação estável e máximo emprego. “Podemos deparar com um cenário desafiador em que as metas do nosso duplo mandato entrem em conflito”, disse. “Se isso acontecer, iremos considerar quão distante a economia está de cada uma dessas metas e os diferentes horizontes de tempo em que essas lacunas poderão ser fechadas”.
As tarifas, segundo Powell, vieram acima do esperado e devem ter efeitos mais amplos sobre a economia. Ele destacou que, embora a inflação tenha recuado, ainda está levemente acima da meta de 2%. “É provável que nos afastemos das metas neste ano, ou então, pelo menos, não faremos nenhum progresso (em levar a inflação à meta)”.
O papel do Fed, segundo ele, é evitar que o aumento nos preços vire algo duradouro. O risco é que as tarifas venham com efeito prolongado, dependendo de sua magnitude e do momento da implementação. Interrupções nas cadeias de suprimentos também preocupam, já que podem fazer uma instabilidade pontual virar um problema de longo prazo.
Dívida no radar
Powell também chamou atenção para o avanço da dívida pública dos EUA. Ele disse que, embora os níveis atuais ainda não sejam insustentáveis, a trajetória preocupa. Em janeiro, a dívida do país atingiu 36 trilhões de dólares (cerca de 208 trilhões de reais).
“A dívida pública americana está em um caminho insustentável, não em um nível insustentável”, afirmou. “Ninguém sabe quão longe podemos ir, mas estamos com um déficit bem grande em uma economia a pleno emprego.”