Por que o balanço do Bradesco prenuncia um futuro sombrio para o país
Lucro despencou devido ao aumento do provisionamento — ou seja, o banco reservou um grande volume de recursos prevendo alta dramática da inadimplência
O segundo maior banco privado do país, o Bradesco, publicou nesta quinta-feira, 30, seu balanço. Nele, chama atenção uma queda do lucro da ordem de 39,1% — para 3,7 bilhões de reais. Isso aconteceu não porque as margens diminuíram ou porque o volume de pagamentos de empréstimos caiu, mas porque o risco das operações do banco aumentou significativamente, forçando o Bradesco a aumentar a provisão para inadimplência. O resultado desta elevação se dá a partir de uma aversão maior ao risco por parte do banco, o que refletirá em um menor volume de empréstimos para clientes necessitados e em juros maiores nas operações. “A demanda de recursos novos passará por um crivo acentuado e pode ter juros e spreads um pouco maiores”, afirmou Octavio de Lazzari Junior, presidente do Bradesco, em teleconferência.
O Bradesco foi o primeiro a publicar as finanças do primeiro trimestre, já impactadas pela Covid-19. Como os bancos brasileiros, devido à falta de concorrência, movimentam-se de forma uniforme, é esperado que isto aconteça também com outros bancos privados, como o Itaú e o Santander. Seria normal que estes outros dois tomassem as mesmas precauções, reduzindo o lucro e aumentando as provisões. Não é à toa que, não só as ações do Bradesco caem (-6,2% às 15h50), mas as de Itaú (-3,5%) e Santander (-5,3%) seguiam o mesmo caminho.
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Clique e AssineAs movimentações dos bancos vão exatamente na direção contrária das necessidades da economia brasileira. Desde 2016, as atuações do Banco Central têm permitido uma queda vertiginosa dos juros bancários, mas não é isso o que tem acontecido. A taxa básica de juros caiu do patamar de 14,25% para 3,75%. Mais de 300 bilhões de reais em depósitos compulsórios foram liberados neste período para dar liquidez aos bancos. Até mesmo a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) caiu de 20% para 15%. Apesar disso, a taxa de juros média cobrada de pessoas físicas passou de 63,7% ao ano em dezembro de 2016 para 46,1% ao ano em abril deste ano — em grande parte, por causa da limitação das taxas cobradas no cheque especial de 8% ao mês.
No momento em que o a população e as pequenas empresas mais precisam do crédito para manter as finanças estáveis, os bancos decidem elevar brutalmente suas provisões, encarecendo o mercado. No caso do Bradesco, foram 2,7 bilhões de reais de aumento, totalizando 5,1 bilhões de reais — ou seja, mais que dobrou de um trimestre para outro. Esse volume de recursos é o quanto o banco disponibiliza para cobrir possíveis inadimplências. O tamanho da provisão representa o temor e também o nível de risco que o banco aceitará para emprestar. Quanto maior, menor a vontade de liberar recursos.