Por que o aumento de emprego nos EUA não é uma notícia tão boa para Biden
Aumento na taxa de empregabilidade ocorre apesar da política de aumento dos juros para esfriar a economia
Ao considerar o crescimento do emprego nos EUA, isoladamente, o cenário é positivo para o presidente Joe Biden. O Departamento do Trabalho do país reportou nesta sexta-feira 390.000 novas ocupações em maio, o 17º ganho mensal consecutivo. A taxa de desemprego por lá já está próxima da mínima de meio século, com 3,6%, e os ganhos médios por hora dos funcionários aumentaram ligeiramente em 0,3% na base mensal. Por outro lado, o aumento dos custos trabalhistas e a capacidade de consumo da população podem preocupar os formuladores da política monetária no banco central dos EUA, o Federal Reserve, por conta dos sinais de inflação. A elevação geral de preços afeta significativamente a popularidade de Biden, no contexto de proximidade das eleições de meio de mandato.
Em outras palavras, uma pequena retração nos empregos seria positiva para conter a escalada de preços, próxima do recorde de 40 anos. “Esse sinal é meio dúbio, nós esperamos que seja bom para os mercados, mas o mercado age mal em relação ao resultado. A interpretação é que, se a economia americana ainda está muito aquecida, a geração de empregos continua muito forte, e isso significa que o Fed vai ter de ser ainda mais persistente e enfático no movimento de alta de juros. Então, a expectativa de alta na taxa de juros se elevam”, diz Wagner Varejão, economista da Valor Investimentos.
O banco central americano adotou a política de aumento na taxa de juros para esfriar a economia e justamente aliviar a inflação. Os ganhos de empregabilidade, embora positivos, serão acompanhados de custos para os empregadores e pressão no valor final de bens e produtos para os consumidores – dificultando os esforços para reduzir a inflação de 8,3% na base anual. Piter Carvalho, também economista, corrobora com a tese. O aumento da empregabilidade acima da expectativa (de 315 mil vagas), em última analise, leva o BC dos EUA a frear o vapor de aquecimento da economia com juros mais altos. “Nesta semana, muitos dirigentes do Fed mostraram um tom mais duro sobre o controle da inflação, e, a perspectiva de subir os juros até um nível que seja ideal à economia. Mais dois aumentos em 0,5 ponto percentual são esperados, no mínimo. Subindo os juros nos EUA, isso reflete na economia mundial. E quem sofre mais com a alta dos juros são os países emergentes, como o Brasil”, avalia Carvalho.
Emprego insustentável
Jerome H. Powell, presidente do Federal Reserve, já chegou a chamar o aquecimento no mercado de trabalho de “insustentavel”. No mês passado, Powell falou publicamente que as tentativas de aliviar os níveis inflacionários – com aumento na taxa de juros – também garantem uma forma mais “sustentável” de pleno emprego. “Precisamos voltar à estabilidade de preços para que possamos ter um mercado de trabalho onde os salários das pessoas não sejam consumidos pela inflação”, disse.
O difícil equilíbrio de reduzir os aumentos sucessivos de preços, sem provocar uma recessão ou forte aumento do desemprego, vem acompanhado de uma taxa de 54% de rejeição ao desempenho de Biden, segundo compilado do FiveThirtyEight, bem como da proximidade das eleições deste ano. Com a inflação agitando o jogo político, a oposição Republicana só precisa tomar uma cadeira no Senado para garantir de volta a liderança da casa.