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Por que não há descarbonização sem redução de emissões indiretas

Em artigo, Marcelo Okamura, do InpEV, diz que empresas se esquecem de fazer logística reversa de produtos pós-consumo para mitigar emissões

Por Marcelo Okamura
11 set 2025, 11h51

A descarbonização faz parte da governança da sua empresa? Se a resposta é sim, talvez ela esteja ignorando o elefante na sala e medindo apenas uma fração das suas pegadas de carbono. Muitas corporações investem pesado na redução da emissão de gases que provocam o efeito estufa, focando em suas emissões diretas – aquelas que saem das chaminés da fábrica, por exemplo, conhecidas como Escopo 1.

Ocorre que as empresas podem estar mirando no lugar errado. Segundo estudo da McKinsey, cerca de 90% das emissões de carbono totais de uma companhia são indiretas, surgindo em outras etapas do ciclo de vida do produto: antes mesmo de sua confecção (upstream) ou depois (downstream). São as chamadas emissões de Escopo 3.

Para um fabricante de insumos agrícolas, por exemplo, as emissões de Escopo 3 incluem, entre outras, desde a confecção das embalagens plásticas que ele adquire, passando pelo transporte desses recipientes até a fábrica. Depois de pronto, o produto continua deixando pegadas de carbono para trás, como na logística do defensivo até o campo ou quando a embalagem é descartada incorretamente em um aterro sanitário, em vez de ser reciclada.

Mas como controlar emissões que não são geradas diretamente pela empresa? A resposta está em fazer as escolhas certas. A indústria seleciona seus fornecedores e pode exigir que eles sigam padrões de sustentabilidade, usem energias renováveis e reduzam resíduos. No caso dos consumidores, o fabricante pode projetar seus produtos para serem mais eficientes energeticamente no uso, mais duráveis, mais facilmente recicláveis ou biodegradáveis.

A logística reversa de produtos pós-consumo é uma excelente maneira de mitigar as emissões de Escopo 3. No Brasil, o setor de insumos agrícolas é um ótimo exemplo, com o Sistema Campo Limpo. Nele, indústria fabricante, canais de distribuição, agricultores e o poder público compartilham a responsabilidade pela destinação correta de embalagens de defensivos. Os números são impressionantes: 100% das embalagens recebidas têm destinação correta, e 95% delas são recicladas. Em 20 anos, o Sistema evitou a emissão de mais de 1 milhão de toneladas de CO2e, o equivalente a plantar 7,5 milhões de árvores, segundo estudo de ecoeficiência da Fundação Eco+.

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Contudo, nas emissões upstream, muitas empresas preferem fingir que o elefante não está lá. O próprio Sistema Campo Limpo, por exemplo, conta com uma fabricante de embalagens de defensivos feita com resina plástica pós-consumo proveniente da logística reversa – a Campo Limpo Plásticos, que permite fechar o ciclo da economia circular. No entanto, algumas empresas ainda optam por adquirir embalagens produzidas com plástico virgem, o que compromete suas metas de descarbonização.

Se quiserem resultados efetivos na redução da pegada de carbono, as emissões de Escopo 3 devem se tornar prioritárias na governança das empresas. Em um cenário onde a sustentabilidade é cada vez mais um imperativo e a descarbonização está no centro das discussões – como o será na COP30 (30ª Conferência das Partes da ONU sobre mudanças climáticas), em Belém, gerenciar as liberações indiretas de gases poluentes não é apenas uma questão ambiental, mas uma decisão estratégica inteligente. Empresas que priorizarem o Escopo 3 estarão alinhadas às metas da COP30, reforçarão sua reputação, atrairão capital verde e garantirão resiliência e competitividade na transição a uma economia de baixo carbono.

*Marcelo Okamura é diretor-presidente do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)

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