Por que a Gerdau pode não ser afetada pelas tarifas sobre o aço?
Companhia é vista como a maior beneficiada no Brasil com a nova medida americana sobre o aço; entenda

Na noite da segunda-feira, 10, o presidente americano Donald Trump assinou um decreto que impõe tarifas de 25% sobre todo o aço importado para os Estados Unidos. A medida afeta diretamente o Brasil, que tem os EUA como destino de 48% de suas exportações da commodity. Uma companhia brasileira, no entanto, deve sair ganhando com a nova taxação. Maior produtora de aço do Brasil, a Gerdau (GGBR4) opera nos Estados Unidos e pode se beneficiar da redução de concorrência externa no mercado americano.
“A empresa se beneficia do aumento tarifário, que protege o mercado interno contra importações predatórias”, diz Igor Guedes, analista de mineração da Genial Investimentos. Com forte presença na América do Norte, a companhia opera 11 unidades de produção nos Estados Unidos e no Canadá e obtém cerca de 38% de sua receita na região – o que significa que não precisa exportar para atender esses mercados.
Ainda é cedo, porém, para cravar vitória para a siderúrgica diante das novas tarifas no mercado americano. Em relatório divulgado ontem, analistas do BTG Pactual alertam que ainda há indefinição importantes, como a duração das tarifas. Enquanto isso, na visão dos analistas, o mercado do aço nos EUA segue pressionado no curto prazo, com a indústria operando a cerca de 73% da capacidade – o que significa uma ociosidade de 27% nas fábricas, indicando que o setor não está operando em seu nível máximo.
Nos últimos dois anos, o setor siderúrgico americano tem sido impactado pela alta dos juros no país, já que períodos de aperto monetário tradicionalmente reduzem a demanda pela commodity. Atualmente no patamar de 4,5% ao ano, os juros americanos alcançaram de um pico de 5,5% entre julho de 2023 e agosto de 2024. Para este ano, a expectativa é que o Federal Reserve adie novas reduções e mantenha o cenário de aperto monetário por mais tempo.
Outro fator que afeta a siderurgia americana são os custos com mão de obra, mais elevados do que nos principais países fornecedores de aço para os EUA – o que ajuda a tornar o produto americano menos competitivo no mercado global.
Para além do cenário americano, os analistas do BTG destacam que as operações da Gerdau ainda enfrentam desafios no Brasil. “Os fundamentos da siderurgia brasileira se deterioraram recentemente, o que deve impactar os lucros no curto prazo”, afirma o relatório, citando descontos significativos de 4 a 5% no preço do vergalhão (um tipo de aço utilizado na construção) em janeiro. Diante disso, os analistas recomendam cautela nas negociações, apesar da tendência inicial de buscar uma oportunidade de ganho rápido.