O presidente da França, Emmanuel Macron, voltou a se opor à atual proposta de acordo comercial entre os países do Mercosul e da União Europeia (UE). “Em seu estado atual, não é um tratado aceitável”, disse Macron, após uma reunião de cúpula da UE na quinta-feira, 17.
A negociação do acordo, que prevê a eliminação ou redução de tarifas de importação entre os blocos, se arrasta há 25 anos. Após décadas de pausa, foi retomado e assinado em junho de 2019, mas ainda depende da ratificação dos 31 países envolvidos para entrar em vigor.
Nos últimos cinco anos, as negociações travaram novamente, principalmente devido a exigências ambientais da União Europeia capitaneadas pela França. O país pressiona para que o acordo não seja implementado sem que haja garantias concretas de cumprimento Acordo de Paris, tratado global sobre a mitigação das mudanças climáticas estabelecido em 2015. “Pedimos o respeito aos Acordos de Paris e a proteção dos interesses das indústrias e dos agricultores europeus”, disse Macron.
A França também busca estabelecer regras de sustentabilidade para a entrada de produtos do Mercosul na Europa, principalmente em relação ao desmatamento e uso de agrotóxicos. Macron defende que os produtos do Mercosul só possam entrar na UE se seguirem as mesmas regras de sustentabilidade que regem os produtores europeus. Segundo ele, seria anticompetitivo para a UE aceitar produtos sem rígida regulação ambiental, enquanto o bloco aprova regras mais severas internamente.
“É preciso reconstruir [o acordo] pensando no mundo como ele é hoje, levando em consideração a biodiversidade e o clima”, disse Macron mais cedo este ano, em evento na Fiesp.
Liderando o outro lado das negociações, o governo brasileiro busca aprovar o acordo. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que o Brasil seria o maior beneficiado com o texto, com um impacto positivo de 0,46% no PIB, comparado a 0,12% para a União Europeia e 0,41% para os demais países do Mercosul.
Na balança comercial, o Brasil ganharia 302,6 milhões de dólares, enquanto os outros países do Mercosul teriam um ganho de 169,2 milhões, e a UE enfrentaria uma queda de 3,44 bilhões, devido às reduções tarifárias e concessões de cotas de exportação.