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Por que a deflação é o calcanhar de Aquiles da União Europeia – e do euro

Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu: deflação em agosto é insuficiente para cravar desaceleração econômica, mas o alerta está aceso

Por Luisa Purchio Atualizado em 10 set 2020, 13h46 - Publicado em 10 set 2020, 13h33

Nesta quinta-feira, 10, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, anunciou que a instituição manterá a sua política monetária para incentivar o crescimento do bloco. Apesar de em agosto a expectativa de deflação ser de 0,4%, o que leva à inflação anual para -0,2%, Lagarde afirmou que seria incorreto se basear em um dado pontual para cravar que há uma situação econômica de deflação no bloco. O dado de agosto preocupa porque quebrou um ciclo que vinha ocorrendo desde maio, quando o índice anual de inflação saiu do patamar negativo, ficando em 0,01% em maio, em 0,3% em junho e em 0,4% em julho. Por isso, a instituição que tem como missão “guardar a inflação” aguarda o comportamento dos preços nos próximos meses e, caso a tendência de taxa negativa se confirme, Lagarde afirmou que utilizará todas as ferramentas monetárias para controlar o euro. A meta da inflação é de 2%, muito distante do patamar atual.

Essa discrepância entre expectativa e realidade dos preços pode desencadear como consequência uma reversão do ciclo de valorização cambial do euro frente ao dólar – desde o dia 23 de março, o euro passou de 1,0726 dólares para 1,1803 na quarta-feira, 10, valorização de 10,04%. Diferentemente dos Estados Unidos, que pôde contar com a baixa do dólar para crescer em vendas internacionais, a situação não é tão fácil assim na Europa. O bloco vive uma situação de cautela maior que outras regiões porque, antes mesmo da Covid-19, já se encontrava com dificuldades econômicas. Para se ter ideia, desde 2016, a taxa básica de juros do bloco está negativa. Nos EUA, por exemplo, a taxa básica de juros da economia era de 1,59% em janeiro deste ano e só a partir de março foi derrubada para zero por causa da pandemia da Covid-19. Essa diferença na queda dos juros das duas regiões, assim como o aumento da liquidez do dólar pelo Federal Reserve Bank, o banco central americano, contribui para que o euro venha se valorizando significativamente. A falta de reação da economia europeia pode, no entanto, dar uma pausa nesse ciclo.

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Nos últimos meses, o consumo na Europa não vem reagindo como o desejado, apesar da extensão do PEPP, o programa de Compras de Emergência na Pandemia, que liberou no total 1,35 trilhões de euros para a compra de ativos. De acordo com Christine, o ritmo de compras líquidas do PEPP se manterá “pelo tempo que for necessário” e “pelo menos” até o final de junho de 2021. Atualmente seu ritmo de compra é de 20 bilhões de euros em títulos por mês. Apesar de o Banco Central Europeu não ter a função de monitorar a situação cambial, essa é uma questão delicada porque impacta na inflação do país. “Se o euro está elevado, a inflação cai, e isso é muito negativo para a União Europeia em um momento como este”, diz Victor Beyruti, analista da Guide Investimentos. Com a moeda europeia valorizada, as exportações diminuem porque os produtos europeus encarecem, e elas são fundamentais para a economia do país. As importações, por sua vez, aumentam, e essa dinâmica pressiona os preços dos produtos para baixo, o que afasta ainda mais o bloco da sua meta de 2% de inflação.

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