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Medidas de Lula por popularidade elevam pressão inflacionária, dizem economistas

IPCA-15 avança 1,23% em fevereiro, maior alta desde 2016. Ações do governo para estimular consumo elevam pessimismo no mercado

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 fev 2025, 16h18 - Publicado em 25 fev 2025, 12h13

O IPCA-15, considerado como a prévia da inflação oficial, registrou uma alta de 1,23% em fevereiro, marcando a maior elevação para o mês desde 2016. Em termos anuais, o índice acumulou um aumento de 4,96%, acima do teto da meta, de 4,5%, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.

Entre os nove grupos analisados pelo IBGE, sete registraram alta. O grupo habitação, com uma elevação de 4,34%, e educação, com 4,78%, foram os maiores responsáveis pelo avanço do índice. A alta no setor de habitação foi impulsionada pelo aumento de 16,33% nas tarifas de energia elétrica residencial, após o fim do bônus concedido pela Usina de Itaipu. Além disso, a tarifa de água e esgoto subiu 0,52%. No grupo educação, a volta às aulas puxou os preços dos cursos regulares, que registraram alta de 5,69%, refletindo a sazonalidade típica do início do ano letivo.

O economista do PicPay Igor Cadilhac salienta que o fim do bônus de Itaipu era esperado, mas ressalta que o aumento acentuado nas contas de luz durante o verão adiciona mais um fator de pressão ao custo de vida. No setor de educação, a alta sazonal também era esperada devido à compra de materiais escolares.

Apesar do aumento pontual nesses setores, a inflação tem se mostrado cada vez mais resistente. A média dos núcleos, que exclui itens voláteis como alimentos e combustíveis, subiu 0,64% em fevereiro, levando a inflação subjacente em 12 meses para 4,41%, o maior patamar desde fevereiro de 2024. Esse dado reflete uma difusão alta, com 66,9% dos produtos e serviços pesquisados registrando aumento de preços, sinalizando uma inflação mais disseminada.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, destaca que a qualidade do IPCA-15 continua se deteriorando, com a persistência de pressões inflacionárias, principalmente nos serviços. “As métricas de serviços, que tendem a ser mais rígidas, seguiram mostrando piora, o que eleva o desafio para o Copom”, avalia Borsoi.

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Em meio a esse cenário, o Boletim Focus elevou a projeção para o IPCA de 2025, agora em 5,65%. O centro da meta de inflação é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, o que, no limite máximo, seria uma alta de 4,5%. “Estamos caminhando para uma inflação perto de 6%, o que já está deixando o mercado bastante pessimista”, afirma Alison Correia, analista de investimentos e cofundador da Dom Investimentos.

Parte desse pessimismo, segundo Correia, se deve à percepção de que o governo federal pode estar adotando políticas que, embora bem-intencionadas, tendem a agravar a pressão inflacionária. O ministro do Trabalho anunciou que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de janeiro trará a criação de mais de 100.000 empregos, número que supera as expectativas iniciais de 50.000 vagas. Um mercado de trabalho aquecido é um fator positivo, mas também eleva as preocupações inflacionárias.

Além disso, novas sinalizações do governo de liberar recursos por meio do saque-aniversário do FGTS e de outros programas sociais, como o recém-anunciado Pé-de-Meia, que prevê um auxílio de 1.000 reais para jovens, intensificam as preocupações do mercado. “Mais dinheiro circulando na economia pode impulsionar o consumo, mas também agrava as expectativas inflacionárias”, alerta Correia.

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O governo também vai dar para 22 milhões de brasileiros o botijão de gás, algo que é um custo no ano de aproximadamente 16 bilhões “Ou seja, gasto atrás de gasto”, diz.

Essas medidas, de acordo com especialistas, são uma resposta previsível à queda de popularidade de Lula, que agora busca recuperar sua imagem. No entanto, elas tendem a aumentar ainda mais as pressões inflacionárias. Além disso, os gastos adicionais impostos por essas iniciativas levantam preocupações em relação à responsabilidade fiscal. Embora o governo tenha se comprometido a zerar o déficit fiscal neste ano, essas ações elevam as despesas, complicando o cumprimento dessa meta. A incerteza fiscal também agrava o cenário inflacionário por meio da desvalorização do real, pressionando os preços via câmbio.

Em discurso ontem durante a assinatura de contratos navais no Rio Grande do Sul, Lula afirmou que o debate em torno da macroeconomia é “bobeiragem” e garantiu que o país crescerá ainda mais este ano. No entanto, o presidente parece ignorar que impulsionar esse crescimento pode intensificar a inflação, dificultando ainda mais o trabalho do Banco Central. A autoridade monetária, diante de uma inflação persistente, poderá se ver forçada a aumentar a taxa Selic, o que, paradoxalmente, pode resultar em uma desaceleração econômica mais acentuada no médio prazo.

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