Para Galípolo, futuro presidente do BC, alta do dólar não é “ataque especulativo”
Galípolo e o atual presidente do BC, Campos Neto, atribuem alta do dólar a fluxos "atípicos" neste fim de ano

O futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta quinta-feira, 19, que classificar a disparada do dólar nos últimos dias de ataque especulativo do mercado não é a melhor explicação para o que está acontecendo. “A ideia de ataque especulativo, enquanto algo coordenado (por agentes financeiros) não representa bem (a situação)”, disse na coletiva convocada pela diretoria do BC para tratar do relatório de inflação do quarto trimestre.
Entre os dias 11 e 18 de dezembro, o dólar comercial saltou de 5,97 reais para 6,27 reais, cravando um novo recorde de fechamento. Ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não descartou a possibilidade de que o movimento refletisse um ataque especulativo do mercado. “Há contatos conosco falando em especulação, inclusive jornalistas respeitáveis falando disso. Eu prefiro trabalhar com os fundamentos, mostrando a consistência do que nós estamos fazendo em proveito do arcabouço fiscal para estabilizar isso. Mas pode estar havendo (ataque especulativo)”, afirmou Haddad aos jornalistas.
O ministro acrescentou que não pretendia fazer “juízo de valor” sobre o assunto, “porque a Fazenda trabalha com os fundamentos. E esses movimentos mais especulativos, eles são coibidos com a intervenção do Tesouro e do Banco Central”.
Na coletiva de hoje, Galípolo afirmou que “não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, como se fosse uma coisa só, que está coordenada, andando num único sentido.” O futuro comandante do BC lembrou que o próprio funcionamento do mercado é baseado em posições contrárias às dos agentes financeiros. “Só existe mercado quando existe alguém comprando e alguém vendendo”, disse. “Então, toda vez que o preço de algum ativo se mobiliza em alguma direção, você tem vencedores e perdedores.”
Já o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, que deixa o posto em 31 de dezembro, relacionou o avanço da moeda americana a alguns fatores. O primeiro é a remessa de lucros de empresas estrangeiras para suas matrizes, um fenômeno sazonal, isto é, que ocorre todo fim de ano. O volume enviado neste mês, contudo, está fora da curva. “A gente tem uma percepção de que o envio de dividendos está maior, está atípico”, afirmou
Campos Neto acrescentou que outros tipos de fluxo cambial também apresentaram alta nos últimos dias. É o caso das operações com o dólar PTAX, usado em transações de comércio internacional e na liquidação de transações financeiras, entre outros. “Elas estão um pouco maiores também”, observou. As pessoas físicas também contribuíram para pressionar o câmbio. “A gente viu mais recentemente um fluxo de pessoas tirando dinheiro do país, inclusive em plataformas que são operações de menor monta, mas que são operações atípicas no volume.”
Tanto Galípolo quanto Campos Neto reforçaram que, apesar dos saltos, o regime de câmbio é flutuante, e não cabe ao BC defender nenhum patamar de preço para a moeda americana, limitando-se a atuar quando entende que há distorções atípicas de fluxo. “O Banco Central não tem nenhum desejo de proteger nenhum nível de câmbio”, sublinhou Campos Neto. “O Banco Central tem muita reserva e vai atuar se for necessário, e a gente entende que, nesse fim de ano, tem um fluxo atípico muito grande (de operações)”, disse.