Papa Francisco tinha fortuna? O que acontece com os bens de um pontífice
Entenda o que acontece com o patrimônio de um papa após sua morte — e quem pode herdá-lo

Morreu nesta segunda-feira, aos 88 anos, Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco. Líder da Igreja Católica por mais de uma década, o primeiro pontífice latino-americano também foi o primeiro jesuíta a ocupar o trono de São Pedro. Ao contrário do que se poderia imaginar sobre alguém que comanda uma instituição milenar com ativos bilionários, Francisco encerra sua trajetória sem deixar fortuna – ao menos não no sentido material do termo.
Francisco viveu sob os votos da Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada no século XVI que impõe a seus membros a renúncia à propriedade privada. Ao entrar para os jesuítas, ainda jovem, Bergoglio assumiu o compromisso da pobreza como princípio de vida. Essa escolha moldou não apenas sua trajetória pessoal, mas também sua atuação como papa. Desde sua eleição em 2013, recusou os luxos do cargo: rejeitou os amplos apartamentos papais e preferiu viver na Casa Santa Marta, uma residência modesta dentro do Vaticano onde também almoçava com funcionários e mantinha uma rotina espartana. Seu papado foi marcado por austeridade, proximidade com os pobres e críticas abertas ao capitalismo desenfreado.
Mas, apesar de tudo isso, a pergunta permanece: um papa pode deixar herança?
A resposta é sim – tecnicamente. Embora chefes da Igreja sejam figuras religiosas, continuam sendo cidadãos com direitos civis. Podem possuir contas bancárias, bens adquiridos antes da eleição papal, direitos autorais de obras publicadas e até propriedades herdadas de família. No entanto, tudo o que um papa recebe ou produz enquanto está no cargo – inclusive lucros de livros e entrevistas – é, por tradição, revertido à Igreja. A distinção entre o patrimônio pessoal e os ativos do Vaticano é fundamental. É possível, por exemplo, que Francisco tenha recebido direitos autorais por livros escritos antes de 2013, mas dificilmente teria acumulado qualquer renda relevante após assumir o pontificado.
A prática de deixar testamento também existe entre papas. Embora raramente venham a público, esses documentos orientam o destino de eventuais bens pessoais. Francisco pode ter designado como beneficiários sua única irmã viva, Maria Elena Bergoglio, seus sobrinhos – ou instituições religiosas e sociais ligadas à Igreja. Em casos como o dele, com votos jesuítas, é possível ainda que a própria ordem tenha sido indicada como herdeira de qualquer ativo remanescente.
O Vaticano, por sua vez, mantém discrição quase absoluta quando o assunto é patrimônio papal. O foco institucional recai sobre o luto, os funerais e, posteriormente, sobre o conclave para escolha de um novo pontífice. Questões patrimoniais são resolvidas nos bastidores, longe do escrutínio público.