Os planos de Lula sobre reindustrialização e relação com UE e Mercosul
Ex-presidente já cogita rediscutir regras dos acordos comerciais, entre eles o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia
O candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diz pretender reindustrializar o Brasil e, para isso, já cogita rediscutir alguns acordos comerciais se eleito, entre eles o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, que prevê redução tarifária para a exportação de produtos entre os países.
A reindustrialização vem sendo uma das bandeiras de sua campanha eleitoral. Lula tem se apoiado no setor industrial, que teve uma fase próspera em seu governo, para criticar seu principal oponente, Jair Bolsonaro. A participação do setor industrial no PIB alcançou 28,6% em 2004, mas caiu para 18,9% em 2021, registrando o seu pior desempenho em quase duas décadas. Com a atividade industrial menos aquecida, a indústria perdeu 9.579 empresas de 2011 a 2020, segundo a Pesquisa Industrial Anual (PIA). Desse total, 70% (cerca de 2.865) enceraram suas operações durante o governo Bolsonaro, entre 2019 e 2020.
O acordo entre Mercosul e União Europeia foi fechado em 2019, após 20 anos de negociações. No entanto, ainda não está em vigor, pois depende da aprovação de todos os países membros envolvidos. Segundo a Fazcomex, o acordo prevê que em 10 anos as tarifas de exportação da América do Sul para a Europa sejam zeradas e, em contrapartida, a Europa precisa realizar a retirada de 91% das tarifas de exportação que ela faz ao Mercosul. Com acesso a produtos mais baratos, inclusive industriais, empresas locais teriam mais vantagens comercializando para fora, reduzindo a atenção para a economia local. Para Lula, o acordo deve prejudicar sua proposta de reindustrializar o Brasil. “O acordo não é válido porque não foi sequer concretizado em plenitude. O Brasil não é obrigado a concordar com um acordo que não respeita aquilo que é o desejo do Brasil. O que nós queremos é sentar com a União Europeia e discutir, em função das necessidades da União Europeia e nossas, os direitos que cada um tem”, disse, nesta segunda-feira, 22, em entrevista concedida a veículos estrangeiros. “Eu acho que negociação tem que ser uma coisa em que todos ganham. Não pode ser uma coisa em que um ganha e o outro não ganha. O que nós queremos na discussão da Europa é não abrir mão do nosso interesse em nos reindustrializar”, completou o ex-presidente.
No início do mês, a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) voltou a registrar queda após quatros meses de ligeira recuperação, recuando 0,4%. O dado é bastante negativo para a indústria, que registra queda de 2,2% no primeiro semestre do ano e de 2,8% no acumulado de doze meses. Os dados têm sido usados como um trunfo por Lula e seus apoiadores na disputa contra Bolsonaro. O desgosto pelo tratamento à indústria é uma das razões para a perda de apoio de importantes entidades, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que circulou um manifesto pró-democracia em defesa do sistema eleitoral brasileiro, o qual tem sido alvo de críticas de Bolsonaro.
Apesar de os dados ruins da indústria serem justificáveis pelos desafios globais com os desequilíbrios nas cadeias de suprimentos herdados da pandemia e a alta dos preços, que estão aumentando os custos de produção e corroendo a renda das famílias, com reflexo na redução da demanda por diversos produtos, a categoria alega falta de investimento público no setor industrial e de políticas para enfrentar a desindustrialização.