Os efeitos da nova composição de juros de Brasil e EUA na economia
Para Reginaldo Nogueira, diretor nacional do Ibmec, combinação de taxas menores lá e maiores aqui atrai capital e valoriza o real
O esperado, projetado e precificado ciclo de alta de juros no Brasil pode se estender até o segundo semestre de 2025. O comunicado mais duro do BC na noite de quarta-feira indica que a autoridade monetária deixa em aberto a possibilidade e o ritmo de novos aumentos.
Os motivos para o aperto monetário estão explicados no comunicado e começam pela expansão da atividade econômica, impulsionada pelo aumento do consumo, e do mercado de trabalho no Brasil que pressionam a inflação, explica o diretor nacional do Ibmec, Reginaldo Nogueira. “O PIB do segundo trimestre, por exemplo, mostra que a demanda continua aquecida. A economia vem crescendo mais do que era esperado, temos aumento do consumo do governo, temos aumento do consumo das famílias”, diz. Dados do mercado de trabalho, a taxa de desemprego chegando a 6,8% também reforça a necessidade de um freio monetário. Com juros mais altos, o crédito encarece e diminui o consumo das famílias.
A política fiscal permissiva também agrava a pressão inflacionária. “Nós não temos conseguido alcançar os objetivos do arcabouço fiscal, que tinha sido aprovado não há muito tempo pelo governo, e isso tem impactos inflacionários. Acho que o Copom tem deixado isso muito claro em todas as atas desde o ano passado. Uma parte da pressão inflacionária vem dos estímulos e dos impulsos fiscais”, diz Nogueira.
Se no Brasil o ciclo é de alta, nos Estados Unidos o movimento vai na direção oposta. Com indicadores apontando queda de núcleos e expectativas de inflação, aproximando-se da meta de 2% buscada pelo Federal Reserve, o banco central americano iniciou um movimento de redução das taxas de juros, que vinha adiando.
O resultado dessa combinação, juros mais altos aqui e menores nos EUA, traz efeitos para o mercado desde ontem. “Isso muda a composição de portfólio para investidores internacionais, isso atrai capital, isso torna a nossa moeda mais atrativa comparada ao dólar”, diz. Um efeito imediato é sentido nos preços dos importados, barateando componentes importados para produção doméstica.
“É um primeiro efeito que nós vamos observar desse desenvolvimento. O tamanho disso depende inclusive de quanto vamos subir a taxa de juros no Brasil e olhando do ponto de vista do governo americano, se os juros continuarão caindo e de maneira muito forte lá por muito tempo”, diz o professor.
As decisões sobre juros terão impacto mínimo no ano atual, diz o professor, afetando mais o segundo semestre de 2025 ou início de 2026. “A essa altura do campeonato, em setembro de 2024, as decisões sobre juros têm uma capacidade muito, muito pequena de afetar o ano corrente. Elas vão afetar o segundo semestre de 2025 ou começo de 2026. E quando a gente olha para frente, para o ano que vem, o mercado já começa a falar de uma inflação em torno de 4%. Lembrando que a meta é de 3%”, diz o economista.